A arte de ler as mentes das outras pessoas



Ler mentes é um antigo sonho, acalentado por muita gente, que já foi objeto de muitos livros de ficção e filmes: como entrar na mente de outras pessoas, descobrir o que estão pensando e controlá-las. Este tipo de habilidade sempre despertou muita curiosidade e, nos últimos anos, tem sido objeto de intensa divulgação pela mídia. Um exemplo atual é a série televisiva “Lie to me”, cujo consultor técnico é, nada menos, Paul Ekman, um dos principais estudiosos das expressões faciais.
Recentemente foi publicado o livro The Art of Reading Mind, de Henrik Fexeus, psicólogo, mágico e showman sueco, que promete ensinar como realizar a façanha de ler mentes e influenciar pessoas. Esse autor participa de programas de televisão e viaja apresentando espetáculos e demonstrações sobre a “leitura de mentes”.
Não, não torça o nariz e não pare de ler: a forma como esse tema vem sendo estudado atualmente nada tem a ver com as abordagens anteriores, do tipo parapsicologia, adivinhação de pensamentos ou poderes espirituais. Fexeus, por exemplo, utiliza a comunicação não verbal, a comunicação verbal e o hipnotismo para descobrir parte daquilo que as pessoas estão pensando e sentindo e para exercer influência sobre elas.

Todos somos leitores de mentes

Um bom jogador de xadrez sabe analisar rapidamente as chances de cada um dos competidores de uma partida em andamento. Essa análise é realizada, em boa parte, através da percepção gestaltica das posições das peças que estão no tabuleiro e de quem fará a próxima jogada e não da análise de cada uma das possibilidades de jogada, como faria um computador. Na vida diária, tomamos inúmeras decisões do mesmo tipo que são tomadas pelos bons jogadores de xadrez: analisamos rapidamente situações muito complexas de uma forma global e não através da análise de seus detalhes.
Para dar um exemplo do que acontece nos relacionamentos, as habilidades exigidas para a realização de um simples diálogo são extremamente complexas. Os cientistas que estão tentando desenvolver softwares para capacitar os computadores para dialogar fluentemente com humanos já descobriram essa complexidade! Para ser capaz de dialogar é necessário, praticamente, ler a mente do interlocutor. Aquelas mensagens que são apresentadas explicitamente, de fato, são apenas fragmentos de mensagens altamente complexas que säo apresentadas. Esses fragmentos só fazem sentido porque estão inseridos em contextos sofisticados e são interpretados de acordo com expectativas pré-existentes dos decodificadores. Todos esses cálculos envolvidos nas apresentações e interpretações de mensagens são, em grande parte, inconscientes. Trata-se, portanto, de “leitura de mentes” e não da decodificação de simples mensagens!
Possuimos mecanismos que facilitam a leitura do que se passa com os nossos interlocutores como a empatia e o contágio emocional. Também estão sendo descobertos alguns mecanismos fisiológicos que favorecem ou possibilitam a leitura do que se passa com outras pessoas. Um desses mecanismos são os “neurônios espelho”: neurônios que disparam tanto quando realizamos uma determinada a ação, como quando observamos outras pessoas apresentarem a mesma ação. Desta forma, os neurônios de uma pessoa imitam os neurônios de outra pessoa, como se a primeira estivesse realizando a ação. Por exemplo, quando vemos uma aranha na perna de alguém podemos ficar arrepiados, como se ela estivesse na nossa própria perna. Quando você observa alguém sofrer uma rejeição, você pode sentir algo similar ao que a pessoa que está sendo rejeitada poderá estar sentindo.
Durante os relacionamentos, a nossa mente funciona no automático, uma boa parte do tempo. Milhares de sinais são enviados e captados sem que tenhamos que pensar neles. David L. Smith, autor do livro, “Porque Mentimos”, acredita que nosso cérebro sabe se comunicar com o cérebro de nossos interlocutores através de mensagens criptografas que são apresentadas através da comunicação não verbal e de mensagens verbais cifradas. Por exemplo, podemos começar a falar de “pessoas que enganam as outras”, quando sentimos que nosso interlocutor está mentindo, ou abordar o tema “ditadores que oprimem as pessoas” quando sentimos que nosso interlocutor está sendo muito impositivo.
A análise do sonho psicanalítica também pode ser considerada uma tentativa de desvendar a linguagem cifrada que nosso cérebro usa nos sonhos.
Não precisamos da intencionalidade e da consciência para comunicar e decifrar grande parte das mensagens. Aliás, esses dois fatores podem até atrapalhar a eficácia das nossas comunicações. Por exemplo, um estudo mostrou que a capacidade para julgar corretamente expressões faciais de emocoes é melhorada quando a nossa mente racional é ocupada com uma tarefa como a realização de cálculos matemáticos, ao mesmo tempo em que as expressões faciais que deverão ser julgadas vão sendo apresentadas.
Isso também fica muito claro naquelas situações onde o resultado do nosso desempenho pode gerar consequências muito importantes para nos e, por isso, ficamos mais cuidadosos para expressar. Perdemos a expontaneidade e isso prejudica bastante, a nossa percpecao e desempenho. Perdemos a “expontaneidade”.

Podemos melhorar a nossa capacidade para ler mentes

A capacidade para ler mentes corretamente é ampliada quando (1) estamos motivados para perceber outras pessoas, (2) não temos medo daquilo que podemos perceber e (3) tivemos experiências que contribuíram para melhorar a nossa percepção social.  
Para perceber bem outras pessoas, temos que estar livres e motivados para fazer isso. Muitas vezes, esse incremento na capacidade perceptiva não vem  do aumento de habilidades, mas sim da melhoria da motivação para fazer isso: um estudo mostrou que as mulheres normalmente são melhores para julgar a comunicação não verbal do que nós homens. No entanto, quando homens e mulheres passaram a ser premiados pelos julgamentos correto, a diferença nas habilidades perceptivas entre homens e mulheres desapareceu. Ou seja, essa diferença era motivacional e não de capacidade!
A liberdade para perceber significa não ter medo do que será percebido ou de não conseguir perceber e da ausência de objetivos que restrinjam demais as nossas percepções. A presença de objetivos em relação a um determinado relacionamento ou pessoa pode diminuir a nossa sensibilidade porque ela  restringe e direciona aquilo que estamos aptos a observar.

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