Amor de Carnaval "Mas é carnaval/ Não me diga mais quem é você/Amanhã, tudo volta ao normal/Deixe a festa acabar/Deixe o barco correr[...] Seja você quem for/Seja o que Deus quiser" (Trecho da letra da música "Noite dos Mascarados" Vânia Abreu)



O amor de carnaval, o amor de praia, o amor de viagem, o amor de congresso, etc. são amores para serem iniciados e consumados logo ali, naquele momento. Eles acontecem e, muitas vezes, terminam em situações que eu chamo de "velódromos": circunstâncias que apresentam condições favoráveis para iniciar um relacionamento amoroso superficial e nas quais não há tempo para maiores cuidados e, por isso, tudo tem que acontecer rapidamente!
A maioria desses amores tem pouca chance de durar. A pretensão, muitas vezes, nem é encontrar o amor para toda a vida, mas sim aproveitar a ocasião.
Creio também que esse tipo rápido de início de relacionamento amoroso sempre aconteceu na história da nossa espécie (talvez, não tão rápido assim, como nas "ficadas" e nos carnavais). Antigamente, quando éramos nômades, essa formação rápida de casais servia para que algumas pessoas trocassem de bando ou gerassem filhos, durante os rápidos contatos que aconteciam entre esses grupos durante suas perigrinações. Os festivais orgiásticos, descritos pelos antropólogos em muitas culturas e parente próximo do nosso carnaval, aparentemente atendia a essa última função. O amor a primeira vista também ajuda muito esse tipo de acontecimento, porque é muito motivador e altera as percepções dos envolvidos sobre aquilo que é razoável fazer. Essas práticas ajudavam a evitar a endogamia: o casamento e/ou a procriação entre aparentados.
Perguntei a casados como haviam conhecido os seus cônjuges. Uma percentagem muito grande respondeu que já tinha um relacionamento anterior com ele ou que havia sido apresentado a ele por um conhecido em comum. Aqueles namoros que são iniciados em “paqueródromos” (baladas, bares, footings, etc.) têm uma chance menor de evoluírem para um relacionamento duradouro e compromissado (namoro duradouro, morar junto, noivado, casamento). Um dos melhores estudos a este respeito apresentou evidências convincentes que isso também acontece nos EUA.1
O motivo principal dessa pouca duração é que o relacionamento amoroso desse tipo começa entre desconhecidos. Os critérios principais para escolher o parceiro são a aparência, os modos e o interesse recíproco. A existência ou não de outras características mútuas, que são importantes para um relacionamento duradouro, só são descobertas posteriormente, em outros encontros, quando chegam a acontecer.
Uma anedota ilustra bem essa situação:
Duas amigas foram a uma balada. Uma delas se entusiasmou com um rapaz e logo começaram a ficar. Poucos momentos depois foram para a mesa onde a outra amiga estava esperando. O casal só tinha olhos um para o outro e os carinhos rolavam solto. As amigas foram ao toalete, como sempre acontece nesta ocasião. A amiga “ficante” confidenciou todo o seu entusiasmo pelo parceiro. A outra comunicou, então, que estava indo embora, porque estava “sobrando” e sentindo-se deslocada. No dia seguinte as amigas se encontraram e a que tinha ido embora mais cedo perguntou para a outra: “E ai? Vai se encontrar de novo como o seu Príncipe?” A amiga que tinha ficado respondeu: “De jeito nenhum”. A outra, espantada, perguntou: “Por que não? Ontem você estava tão entusiasmada!” A ficante respondeu: “Porque depois que saímos de lá consegui ouvir o que ele dizia!”
Esse é um dos principais motivos porque os amores que nascem entre desconhecidos e que começam rapidamente têm menos chance de durarem. Outro motivo importante é que, muitas vezes, os amantes moram em locais distantes, o que dificulta a continuidade do relacionamento. Outro motivo ainda, é que nestas ocasiões, muitas vezes, um ou ambos envolvidos “deixam por menos”: aceitam ficar com alguém, que tem atrativos para esta finalidade, mas que não preenche os requisitos para um relacionamento mais duradouro. Acresça a esses motivos o fato de que aqueles relacionamentos onde o sexo acontece logo no primeiro encontro têm menos chance de se tornarem um namoro, segundo as evidencias apresentadas por outro estudo.

Mas quem estava querendo um relacionamento duradouro nestas circunstâncias? Muitas vezes o objetivo é aproveitar a ocasião e nada mais. Nada contra.
 Além disso, pode haver sorte e o parceiro realmente acabar sendo tudo aquilo que a fantasia e o álcool prometiam!

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