Autoconhecimento através da observação dos sentimentos



Podemos aumentar o nosso autoconhecimento através da auto-observação da forma como agimos, pensamos e sentimos em diversas situações.
Para fazer esse exame, não podemos ser muito defensivos, devemos ter muita curiosidade e uma grande motivação para o autoconhecimento. A defensividade turva ou distorce a nossa percepção. A falta de curiosidade e de motivação para essa tarefa faz com que não a coloquemos em prática.
Para aumentar o autoconhecimento você deve ter espaço para examinar os seus sentimentos que vão surgindo continuamente  sem autocondenar-se ou autoaprovar-se por isso.

Todas as emoções têm funções adaptativas

Os nossos mecanismos psicológicos e os componentes do nosso corpo (pulmão, coração, olhos, braços e pernas) evoluíram através dos mesmos processos: mutações genéticas aleatórias e seleção pelo meio ambiente daquelas alterações que aumentavam as chances de sobrevivência do mutado e as chances dele procriar e cuidar dos filhos com sucesso.
Já nascemos com a capacidade de sentir e de perceber os significados de varias emoções (o recém-nascido, por exemplo, já expressa várias emoções e reage de forma diferente às expressões de emoções por parte de outras pessoas). Essas manifestações precoces são uma evidência de que as emoções possuem componentes inatos e, pelo raciocínio apresentado no parágrafo anterior, que elas foram incorporadas à nossa carga genética porque aumentaram as nossas chances de sobreviver e de procriar com sucesso.
As emoções têm pelo menos quatro funções muito úteis: (1) motivadora (o medo aumenta a motivação para fugir ou para se proteger, por exemplo), (2) preparação do organismo para agir melhor (a redistribuição do sangue no organismo para aumentar a capacidade de ação, por exemplo), (3) orientadora da  ação (a raiva, por exemplo, dirige as ações contra quem a provoca) e (4) comunicativa (os comportamentos verbais e não verbais associados às emoções informam  as outras pessoas sobre aquilo que estamos sentindo e podem evocar diversos tipos de reações nas pessoas que os observam. Essas informações e reações permitem que os observadores lidem menor conosco e com aquilo que está provocando  tais reações).

Não devemos desligar o alarme antes de identificar o que o disparou

Lutar contra certas emoções desconfortáveis sem antes identificá-las e determinar aquilo que está causando-as equivale ao desligamento de um alarme que está incomodando sem tentar identificar aquilo que o disparou.
Queremos nos livrar de muitos dos nossos sentimentos. Existem três motivos principais para isso: (1) alguns deles são desconfortáveis para quem os sente (o medo e ciúme, por exemplo); (2) fomos educados para sentir algo desconfortável quando experimentamos certos sentimentos “indesejados” (sentir vergonha por sentir inveja, por exemplo) e (3) somos punidos quando mostramos que estamos sentindo certas coisas "erradas". A sociedade condena alguns sentimentos e glorifica outros. Por exemplo, muita gente mal informada já apregoou contra a raiva, a inveja e o ciúme.
Essa fuga dos sentimentos negativos faz com que tentemos reprimi-los ou substitui-los por outros “mais desejáveis” (por exemplo, tentamos pensar em outras coisas ou argumentar contra o que estamos sentindo.).
A nossa sociedade combate certos sentimentos através de afirmações do tipo:
“Homem não tem medo”
“Homem não chora”
“Sinta culpa quando você sentir inveja”
“O ciúme é um sentimento inferior”
Embora seja compreensível que queiramos nos desfazer daquilo que nos deixa desconfortável, ao fazer isso indiscriminadamente corremos o risco de deixar de aprender sobre nós mesmos e sobre situações prejudiciais que evocam tais sentimentos.

Maneiras de identificar sentimentos ambíguos e suas causas.

Alguns dos exercícios que são usados por psicólogos para ajudar a identificar sentimentos fracos (reprimidos?) ou ambíguos e as suas causas são os seguintes:
Identificar-se como os sentimentos. Fingir que é o sentimento. Falar em voz alta como se fosse ele. Por exemplo, “Sou a sua raiva que fulano está sentindo. Quero agredir sicrano me tratando injustamente”. Esse tipo de fantasia pode ajuda a ampliar e a revelar os sentimentos e identificar as suas causas.
Completar frases com tudo que vier à cabeça. O psicólogo sugere uma frase para ser completada que ajuda a explorar o sentimento ambíguo que está sendo apresentado pelo cliente. Por exemplo, ele pede para que o cliente complete a seguinte frase com tudo que lhe vier à cabeça, mesmo que isto lhe pareça ilógico: “Se eu permitisse que isso que está acontecendo comigo se extravasasse....”.  O cliente apresenta respostas do tipo: “Eu iria embora de casa”, “Eu diria para ela que não vou mais tolerar como ela tem me tratado”, “Eu poderia me dar mal”. Estas respostas provavelmente são influenciadas pelos sentimentos e ajudam a identificá-los mais claramente, a identificar suas causas e porque eles não estão claros para o cliente.
Corporificar. Muitas vezes “somatizamos” reações psicológicas a  acontecimentos que nos afetam profundamente. Por exemplo, algumas pessoas têm dor de cabeça quando ficam preocupadas. Outras têm dor de estômago, ficam alérgicas, relatam um nó na garganta ou aperto no coração. Além disso, as emoções mobilizam musculaturas diferentes e de forma diferente (algumas emoções são relaxantes, outras provocam tensão, por exemplo).
Os psicólogos usam a “corporificação do sentimento” como exercício para aumentar a consciência sobre a sua natureza e sobre aquilo o está provocando. Esse exercício de corporificação consiste no seguinte: (1) focalizar uma área do corpo onde o cliente está somatizando o sentimento; (2) Massagear, pressionar ou orientar exercícios para contrair a musculatura deste lugar para amplificar a sensação e (3)  focalizar a atenção do paciente nesta área e orientá-lo para deixar que ela fique presente, tome a sua consciência, desperte lembranças e desperte outras emoções, pensamentos e fantasias.

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