EUA não precisam de colaboração brasileira para monitorar tráfego


A revelação de que o Brasil também é alvo do monitoramento da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos deixou autoridades querendo explicações. Essa possibilidade, porém, já havia sido antecipada pela coluna Segurança Digital no início de junho – isso porque o governo norte-americano não precisa da colaboração de brasileiros para monitorar pelo menos parte do tráfego e chamadas telefônicas de brasileiros.
A explicação para isso está na forma que a rede funciona: uma comunicação – que pode ser um telefonema ou um pacote de dados de internet – precisa encontrar um “caminho” para chegar de um ponto a outro. E, dependendo do caso, esse caminho passa por dentro dos Estados Unidos – território em que a NSA pode atuar, como já mostravam as primeiras revelações sobre esse caso, exposto pelo ex-agente da CIA Edward Snowden.
A colaboração de empresas brasileiras com a NSA poderia permitir o monitoramento de ainda outras comunicações nacionais, mas isso é apenas uma questão de abrangência. A pergunta não é “pode?”, mas “pode quanto?”.
Para transmissão de dados na internet, porém, mesmo o monitoramento exclusivo de redes norte-americanas já seria bastante abrangente. Dois brasileiros trocando um e-mail pelo Gmail ou enviando uma mensagem no Facebook poderiam estar colocando seus dados à disposição dos norte-americanos.
É também por esse motivo que os provedores de serviços de internet estão pedindo que o governo dos Estados Unidos seja mais transparente e revele detalhes sobre o programa de monitoramento. Eles estão perdendo confiabilidade, especialmente de governos estrangeiros que poderiam utilizar seus serviços.
Já os provedores de telecomunicação, responsáveis pela infraestrutura pela qual os dados trafegam, pouco se manifestam. E foi justamente um provedor de telecomunicação – a Verizon – que recebeu uma das ordens judiciais abrangentes para entregar dados de forma indiscriminada. A AT&T, outra grande operadora norte-americana, foi protagonista do escândalo da “sala 641A”, revelada em 2006: a NSA operava um centro de monitoramento dentro do próprio prédio da AT&T. O técnico que revelou a existência da sala diz que outras semelhantes existem, mas até hoje nenhuma foi identificada.
Em outras palavras, enquanto os provedores de serviços – as “torneiras” – estão preocupados em negar vazamentos, ninguém sabe nada a respeito dos provedores de comunicação, que controlam todo o encanamento.
A situação sempre foi essa e a rede sempre dependeu de confiança. A existência de espionagem diretamente no tráfego de internet sempre foi considerada pouco prática – e inclusive há quem diga que a própria NSA talvez não tenha bons resultados com esse método. Mas já está claro que isso está sim acontecendo, e se não houver regras para garantir a privacidade das comunicações mundiais, os direitos de alguns cidadãos serão sempre violados quando seus dados estiverem passando por terras estrangeiras.
Como a quantidade de dados é muito grande, agentes de inteligência podem acabar perdendo tempo com informações inúteis.

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