Experiências de segunda mão: porque assistimos filmes e novelas


Você quer passar por uma experiência emocional ou participar de uma aventura, mas teme os riscos excessivos que isso pode ocasionar? Então, recorra a uma das muitas formas de obter essas experiências através de experiências alheias: alugue um filme, leia um livro, assista uma peça de teatro.
Lembro-me de um filme estrelado por Arnold Schwarzenegger onde o personagem interpretado por esse autor compra memórias de uma viagem que não fez: uma firma especializada implanta nos cérebro de seus clientes memórias de viagens. Após esse implante, essas pessoas passam a se lembrar da viagem escolhida, tal como se realmente a tivessem realizado. A nossa tecnologia ainda não chegou a esse ponto! No entanto, enquanto esse progresso não se concretiza, todos nós já lançamos mão de experiências alheias para criarmos a sensação de que estamos vivendo aventuras e dramas: recorremos a filmes, pecas de teatro e livros com essa finalidade. O rapaz tímido e franzino pode se sentir na pele de James Bond, a moça que leva uma vida apagada e chata pode viver o sonho da menina que progrediu e se casou com o galã  famoso e rico.
Nesse artigo vamos examinar um mecanismo psicológico que permite este tipo de experiência de segunda mão: as experiências vicariantes.
Você provavelmente já se deparou com termos ou locuções tais como “empatia”, “contágio emocional” e “compaixão”. Esses termos e expressões são usados para nomear a capacidade de nos afetarmos pelos sentimentos expressos por outras pessoas ou pelo que está se passando com elas (coisas boas e tragédias).
Muitos empreendimentos comerciais fazem uso dessa capacidade. Por exemplo, certas propagandas lançam mão dos testemunhos de pessoas apreciadas pelo público para fazerem propaganda de seus produtos. A mensagem que fica é algo assim: “Fulano que admiro acha bom e chic tomar o xarope tal. Me senti na sua pele tomando tal xarope na companhia daquelas pessoas lindas.” Por associação, tal xarope adquire a propriedade de evocar parte dessas sensações evocadas pelo comercial.  Outro exemplo: muitas entidades e campanhas filantrópicas que dependem da generosidade alheia para arrecadar fundos apelam para anúncios comoventes que mostram pessoas em má situação precisando de auxílio

Porque as pessoas assistem filmes que nos fazem chorar?

Nesta semana que passou a mídia divulgou uma pesquisa sobre os motivos das pessoas verem filmes que as fazem chorar. Essa pesquisa foi realizada pela professora Silvia Knobloch-Westerwick e três laboradores (Yuan Gong, Holly Hagner e Laura Kerkeybian, todos da universidade Estadual de Ohio).
Neste estudo, a pesquisadora Elisa e seus colaboradores pediram a estudantes universitários que assistissem uma versão abreviada de um filme triste, "Atonement" ("Desejo e Reparação", em português). Antes, durante e após o filme, estes estudantes foram entrevistados sobre o que estavam pensando e sentindo. Aqueles estudantes que se mais envolveram com o filme, também foram os que mais pensaram nos seus familiares e sentiram alivio porque a tragédia mostrada no filme não tinha acontecido com estes. Esses pesquisadores concluíram que é o alivio sentido pela tragédia mostrada no filme não estar acontecendo como os familiares foi a maior responsável pelo aumento da felicidade dos estudantes. (Aquelas pessoas que pensaram apenas nelas próprias não apresentaram melhoria na felicidade). Esse alívio, concluem os pesquisadores, seria o motivo que faria as pessoas assistirem filmes tristes.

Outros motivos para assistir filmes

Este alívio realmente parece explicar porque as pessoas tiveram um aumento na felicidade após assistirem o filme. Ele, no entanto, não explica porque assistimos filmes de aventura, filmes policiais, ficções científicas e novelas que não nos levam a pensar nos nossos familiares.
Creio que existem pelo menos quatro grandes motivos para assistirmos filmes e novelas e lermos livros de aventura e romances: (1) podemos aprender com a experiência alheia; (2) motivos estéticos: essas obras säo gratificantes porque oferecem estimulações estéticas e intelectuais; (3) elas provocam emoções (por exemplo, os sustos provocados por certos filmes de terror). É esse mesmo tipo de efeito que faz que procuremos montanhas russas e saltos buddie jumping. (4) as emoções e vivências que são provocadas em nós quando observamos pessoas expressando emoções ou passando por situações que provocam emoções. Este efeito é conhecido como experiência vicariante: a capacidade sentir coisas que estão sento sentidas por outras pessoas.
Podemos sentir o que outras pessoas estão sentido ou que acreditamos que elas estariam sentindo. Essa semana, vi a notícia que a famosa apresentadora de televisão americana Oprah Winfrey, que veio ao Brasil gravar um programa com um médium, sentiu-se mal quando viu um paciente sendo operado, com uma tesoura enfiada no nariz, em uma das operações mediúnicas.

Ferramenta terapêutica

As experiências vicariantes são muito usadas como ferramenta terapêutica na clinica psicológica. Por exemplo, quando o paciente observa o terapeuta em uma situação que ele, paciente, sente muito medo, sem que o terapeuta mostre que está sentindo tal emoção ou desconforto (este simula que está falando com desenvoltura e relaxamento para um público fictício), isso contribui para diminuir o medo do paciente e para que ele imite o seu desempenho.

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