O poder do olhar Something in the way she looks me, atract me like no other love (Beatles) “Olho nos olhos, quero ver o que você faz...” (Chico Buarque) Olhar e interesse amoroso



Olhar e interesse amoroso
Os dois exemplos abaixo mostram como o apaixonado só tem olhos para a amada.
Exemplo 1 - “Traz mais uma, por favor”, pede o enamorado, apontando para a garrafa vazia de cerveja, com os olhos fixos na companheira, sem sequer olhar para o garçom.
Exemplo 2- André programou uma festa na sua casa. Maria era a sua convidada especial. André era muito tímido. Na festa, todos sabiam do seu interesse por Maria. Ele não queria dançar com ninguém e ninguém tirava Maria para dançar. No entanto, toda vez que Maria se aproximava, ele ficava praticamente mudo ou falava coisas irrelevantes. A única pista que denunciava claramente o seu interesse por Maria era o seu olhar: a qualquer instante que ela olhava na sua direção, lá estava ele olhando para ela. Onde quer que ela estivesse, a face dele sempre estava voltada na sua direção. Ele só tinha olhos para ela. (História real. Certos detalhes foram alterados para não permitir a identificação dos personagens).
A presença de uma pessoa por quem sentimos uma grande dose de atração amorosa é um dos fenômenos mais importantes que podem existir para um ser humano. Por este motivo, é natural que orientemos a parte dianteira dos nossos corpos e olhemos para quem nos atrai amorosamente e deixemos de olhar para quem não nos atrai. Assim sendo, olhar ou o não olhar para uma pessoa é uma pista muito importante sobre a existência de um interesse amoroso por ela.
Nesta artigo vamos examinar a importância do olhar na comunicação de diversos tipos de mensagens, principalmente das mensagens amorosas.

A importância dos olhos na comunicação

Os olhos são os principais receptores de informações sobre o que está ocorrendo ao nosso redor. O olhar é uma das maiores fontes de informação sobre os interesses, atitudes e emoções de quem olha.
O olhar é extremamente informativo sobre quem olha. Por exemplo, um contato de olhos que dura uma fração de segundo a mais do que o usual já pode ser percebido como sinal de interesse. As pessoas que olham menos tempo do que o usual podem ser vistas como mais esquivas, menos sinceras e menos calorosas do que aquelas cuja duração de olhares seja a usual.

De onde vêm os significados do olhar?

O olho é uma estrutura relativamente rígida. Embora o seu formato possa ser alterado pela musculatura para fazer as imagens incidirem na retina, essas alterações geralmente não são percebidas pelos interlocutores e, por isso, não têm qualquer papel na comunicação. As únicas alterações perceptíveis do olho são as dos diâmetros das pupilas (falaremos disso depois) e da direção do olhar.
Os significados do olhar são determinados pela sua direção, duração e  circunstâncias onde ele ocorreu ou foi desviado. Os significados do olhar dependem também de quem está olhando, de quem está sendo olhado e do objeto, acontecimento ou parte do corpo para a qual ele está sendo dirigido.

Como percebemos a direção do olhar do interlocutor

As partes do nosso olho  que säo visíveis para as outras pessoas säo a sua borda externa branca (esclerótica), uma área mais central escura ou colorida (íris) e uma área interna transparente (pupila). O branco da esclerótica contrasta, na sua borda externa, com as cores mais escuras dos cílios, da pele em volta do olho e das sobrancelhas. O branco da esclerótica também contrasta, na sua borda interna, com o escuro ou a cor da íris. A íris, por sua vez, contrasta na sua borda interna com o escuro da pupila (de fato a pupila é transparente, mas parece escura). Este último contraste é maior quando a pupila é colorida. Todos estes contrates permitem que um observador à distância saiba dizer qual é a direção do olhar de outras pessoas. No entanto, quanto maior a distância entre a pessoa cuja direção do olhar se quer determinar e o observador, mais este comete erros ao avaliar a direção do olhar daquela.
Os acontecimentos mais importantes atraem os olhares.
Em qualquer lugar onde estejamos, geralmente existem muitas coisas e acontecimentos para serem vistos. No entanto, não gastamos o mesmo tempo olhando para cada um deles. Alguns atraem mais a nossa atenção do que outros. De uma forma geral, tendemos olhar para aquilo que achamos mais importante.  Estas coisas e acontecimentos considerados importantes tanto podem ser negativos como positivos. Devido a esta tendência, a direção do olhar é uma das pistas mais relevantes sobre a existência de interesse amoroso de uma pessoa por outra.

O contexto do olhar

Por "contexto" deve-se entender aqui tudo aquilo que aconteceu antes, que está acontecendo no momento e que acontece em seguida ao olhar. Estes acontecimentos tanto podem ser eventos sociais (por exemplo, olhar demorado após a receber um toque na mão), como não sociais (por exemplo, um carro que passa).
Olhar durante uma conversa. É normal olhemos para o rosto do interlocutor  durante a conversa. Estas olhadas acontecem de acordo com um padrão predefinido que especifica quem olha quem, olha onde, quando olha e por quanto tempo olha. Os estudos sobre o olhar durante uma conversa de natureza não amorosa (amistosa, profissional, etc.) mostraram que o ouvinte geralmente olha mais tempo para o rosto do falante do que vice-versa. Dois destes estudos encontraram resultados similares: o ouvinte olha, aproximadamente, 70% do tempo para o rosto do falante e este olha aproximadamente 40% do tempo da sua fala. Os olhares mútuos ocorrem em cerca de 30% do tempo Este tempo que uma pessoa olha na face da outra não é contínuo, mas sim constituído por  pequenas fixações que geralmente duram menos que três segundos. Provavelmente é devido a estas pequenas durações seguidas de breves interrupções do olhar que fazem com que a pessoa olhada não se sinta encarada (Knapp e Hall, p 297).

Olhar que mostra interesse amoroso durante a conversa

Quando há interesse amoroso, a pessoa interessada aumenta a percentagem de tempo que fica olhando para o rosto de seu interlocutor, principalmente quando ela está no papel de falante. A interessada também aumenta a duração de cada olhada (olha por mais que três segundos cada vez), o que faz com o seu interlocutor sinta que ela o está encarando. Quando há interesse amoroso, as pessoas também podem captar o olhar da outra (olhar e deixar perceber que está olhando).

Três tipos de olhar durante o flerte à distância

O contato de olho à distância é a principal forma de mostrar interesse e negociar uma abordagem amorosa entre desconhecidos. Segundo um estudo realizador por Monica Moore nos EUA, durante o flerte à distância aparecem três tipos de olhares:
Varredura: o olhar percorre todo o ambiente e só “acidentalmente” cruza com o do parceiro.
Dardo: o olhar cruza por um breve período de tempo (menos que três segundos) com o olhar do parceiro.
- Fixação: o olhar cruza por mais tempo (mais que três segundos) com o olhar do parceiro. Neste caso, cada pessoa olha e permite que a outra perceba que ela está olhando. A repeticäo de olhares deste tipo convida e permite a abordagem por parte do quem está recebendo a fixação.

Mentiroso desvia os olhos?

Quem está mentindo pode apresentar sinais faciais de várias emoções negativas (desconforto, medo, etc.) e geralmente faz menos contato de olhos do que quem está falando a verdade. Esta regra, no entanto, tem exceções: certos mentirosos, aqueles cujas personalidades são classificadas como maquiavélicas, aumentam os contatos de olhos com os seus interlocutores durante a mentira (Knapp e Hall,  1999 ).
Quem desvia o olho primeiro é o dominado
Entre galinhas, a hierarquia pode ser prevista pela ordem de bicadas: aquela galinha que bica outras e não é bicada por elas é superior na hierarquia. Entre os humanos não existe uma ordem de bicadas, obviamente. No nosso caso, existem evidências de que a posição hierárquica está relacionada com a “ordem das olhadas”. Pessoas que desviam primeiro os olhos são “dominadas”. Aquelas que sustentaram o olhar são “dominantes”. As seguintes afirmações dizem respeito ao efeito hierárquico do olhar: “Vou encarar aquele cara”, “Não me encare enquanto falo. Olhe para frente”, disse um sargento para um soldado que estava em posição de sentido.
 Esta regra não pode ser seguida ao pé da letra uma vez que o olhar humano é controlado por outros fatores além da hierarquia. Por exemplo, “ele tentou flertar com ela olhando-a nos olhos. Ela desviou o olhar, recusando o seu flerte”. Neste caso o desvio de olhar indica apenas que o flerte não foi retribuído.

O olhar intensifica as mensagens emitidas por outros tipos de comunicação

Olhar mais tempo do que o costumeiro intensifica as mensagens que estão sendo enviadas por outros meios. Uma repreensão ou uma declaração de amor proferida por quem está olhando nos olhos do interlocutor geralmente são percebidas como mais intensas do que estas mesmas declarações proferidas sem este tipo de olhar.

A dilatação e contração da pupila como forma de comunicação

O dilatador natural de pupila mais eficiente é o escuro: após alguns minutos no escuro e as nossas pupilas alcançam o máximo de dilatação. O constritor natural de pupila mais eficiente é a luz. As nossas pupilas se contraem rapidamente quando uma luz forte atinge os nossos olhos como, por exemplo, a luz alta de um carro que está trafegando em sentido contrário. A nossa pupila também se dilata ou contrai por razões psicológicas.
Várias pesquisas vêm mostrando que a nossa pupila se dilata quando observamos ou pensamos algo que nos atrai e se contrai quando observamos ou pensamos algo que nos repele. Por exemplo, ver a foto de uma pessoa muito atraente faz com que a nossa pupila se dilate, ao passo que ver a foto de uma pessoa que não gostamos faz  que a nossa pupila se contraia. Este efeito dilatador ou constritor das pupilas por razões psicológicas levou vários pesquisadores a desenvolverem testes para identificar as nossas preferências por diversos tipos de estímulos como fotos de pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto do julgador; bebês em comparação com adultos; tipos de comida e de bebida.
Você pode observar como um estímulo auditivo provoca uma dilatação nítida na pupila de um gato: é só observar as suas pupilas em um lugar que tenha pouca iliminacäo e arranhar levemente uma superfície rígida, como em um móvel de madeira.  Assim que esta acäo produzir aquele som típico, a pupila do gato se dilata e, logo em seguida, se contrai novamente. Este procedimento pode ser repetido inúmeras vezes, sempre com o mesmo efeito.

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