O seu amor definhou? O que fazer?


Pense nos casais que você conhece e que estão juntos há mais de vinte anos e responda às seguintes perguntas:
- Eles geralmente andam de mãos dadas ou abraçados?
- Cada um  deles mostra muita animação e se “derrete” quando o outro está presente?
- Você já os viu olhando romântica e demoradamente nos olhos do outro e trocando beijos apaixonados?
- Eles telefonam varias vezes por dia para o outro só para dizer que o ama, para ouvir sua voz ou para dizer que estava pensando nele?
Provavelmente você respondeu “Não” para essas quatro perguntas. É relativamente raro que os parceiros que já estão juntos há muito tempo ainda mostrem muito romantismo e grande entusiasmo pela presença do outro.
Mas, não tiremos conclusões apressadas. Essas manifestações de amor estão, sim, presentes entre mais que dez por certo dos cônjuges que  têm um compromisso amoroso há mais que vinte anos.

Quando o amor esfria

Certa vez eu e meus alunos filmamos casais em locais públicos com uma câmera oculta. Após cada filmagem, abordávamos a dupla e pedíamos permissão para usar o filme para fins cientificos (quando um ou ambos membros de uma dupla não concedia a permissão, o vídeo era imediatamente apagado)  e entrevistávamos cada um deles em separado. As entrevistas mostraram que essas duplas eram formadas por flertantes, casais amorosos (namorados, casados), amigos, e colegas. A finalidade dessas gravações era obter material para estudar os comportamentos de flerte entre os casais.
Outra coisa, no entanto, que é relevante para o tema que estamos abordando aqui, chamou muito a nossa atenção. Quando vimos os vídeos, ficou muito claro a animação e a quantidade de atenção que apareciam entre as duplas que estavam iniciando seus relacionamentos (casais que estavam no primeiro encontro e ainda não tinham começado um relacionamento amoroso ou namorados no início do namoro). No entanto, quem via os vídeos e não tinha lido a entrevista não conseguia distinguir  entre dois tipos de duplas: aquelas cujos participantes não tinham interesse amoroso recíproco (eram apenas amigos ou colegas de escola ou de trabalho) e aquelas constituídas por casais que já estavam juntos há muito tempo juntos. Em ambos esses casos, não estavam presentes os sinais típicos de inicio de relacionamento amoroso (animação, olhares demorados, etc.) nem os sinais que indicam um relacionamento amoroso estável (sinais de vinculo como mãos dadas, andar abraçado e manifestações amorosas como o beijo na boca). Ambos esses tipos de duplas exibiam sinais que mostravam que estavam juntos ali no local, mas não mostravam comportamentos que diferenciassem a natureza de seus relacionamentos: se ele era amoroso ou não amoroso. Essa ausência de romantismo, afetividade e sinais de vínculo amoroso, infelizmente, pode ser notada em muitos casais que já estão juntos há muito tempo.
É inevitável, então, que o amor enfraqueça á medida que vai passando o tempo? A resposta é um sonoro NÃO! Certa dose de enfraquecimento é esperada: mesmo aquilo que é importante, mas conhecido, estável e seguro inevitavelmente requer menos atenção, desperta menos emoção e motiva menos do que aquilo que é importante e pouco conhecido.

Efeito novidade

Quase tudo que é novo, importante e imprevisível atrai mais a atenção do que aquilo que já é conhecido e estável. Ao receber um brinquedo novo, a criança se encanta e quer brincar com ele o tempo todo. Depois o coloca de lado. O novo projeto sempre entusiasma, mas, depois de um tempo, fica difícil manter o nosso interesse nele.  O novo amor faz o coração bater forte; na sua companhia as horas passarem rápido demais. Depois existe o risco dele cair na rotina e passar a despertar pouco interesse.
O interesse sexual pelo novo parceiro geralmente é maior do que pelo parceiro antigo. Existem estudos que mostram, por exemplo, que um rato que já está saciado sexualmente volta a copular quando uma nova parceira receptiva é introduzida no seu território. Verificou-se que este fenômeno, o “efeito novidade”, acontece com varias espécies.
Entre nós, humanos, algo mais curioso ainda acontece com certas pessoas: elas só sentem atração pela novidade. Assim que conquistam alguém, perdem o interesse. Elas encaram o amor mais como um jogo de conquista: Assim que ele é ganho, perde a graça. Essas pessoas são aquelas que têm o estilo de amor Ludos, segundo a classificação de John Alan Lee (veja o eu artigo aqui no Blog, “Estilos de Amor”, que descreve esta classificação).

Amor para sempre

Há pouco tempo atrás vi um vídeo que mostrava casais que após vinte anos de casados ainda reagiam aos parceiros de forma apaixonada. Os pesquisadores mediram vários fenômenos fisiológicos que, no início do relacionamento, costumam se alterar na presença da pessoa amada. Por exemplo, eles pediram para cada um dos membros desses casais que olhasse a foto do parceiro enquanto mediam a quantidade de irrigação de cada de cada uma das suas áreas cerebrais, a sua pressão sanguínea, o seu ritmo cardíaco, etc. Essas medidas mostraram padrões muito semelhantes entre os casais que já estavam juntos há muito tempo e os casais de apaixonados que estavam começando seus relacionamentos.
Esse vídeo também mostrava o dia a dia desses casais de apaixonados. Eles agiam da mesma forma que os casais que estavam se começando a sair e se conhecendo: se produziam para ficar mais bonitos e atraentes para o parceiro, só tinham olhos para o parceiro e cobriam o parceiro de atenção e gentilezas!

Um dos segredos daqueles que conseguem manter o amor forte durante toda a vida

Como o amor pode permanecer intenso durante muito tempo? Não foi dito acima que aquilo que é conhecido atrair menos atenção e interesse?
Nunca somos totalmente conhecidos para o outro e para nós mesmos. Um estudo mostrou que casais que estavam juntos há mais que dez anos só conseguiam prever cerca de 50% das respostas dos respectivos cônjuges. Essa fantasia de que já conhecemos o parceiro contribui para que diminuamos a atenção que prestamos nele.
Somos naturalmente variáveis. O ser humano é naturalmente mutável. Ele pode se alterar bastante durante um mesmo dia, e até de um momento para outro, em muitos aspectos que exigem atenção devido às suas importâncias para aqueles que convivem com ele. Essas alterações, quando não abafadas, são mais do que suficiente para manter o relacionamento vivo e vibrante. Existem pessoas que estão sempre nos surpreendendo, pois nunca sabemos exatamente como vai agir e reagir. São pessoas que não se deixam guiar totalmente pelas regras e por aquilo que se espera delas. Para continuar a atrair a atenção e o interesse basta deixar transparecer uma parte das nossas variações naturais.
Esse engessamento do relacionamento acontece porque as pessoas acham mais seguro ou mais cômodo repetir padrões de comportamento que deram certo no passado. Um dos motivos desse engessamento é o medo de se arriscar e mostrar coisas inesperadas que possam decepcionar ou desgostar o parceiro.
Você age todo dia sempre igual com o seu parceiro? Você acha que já sabe tudo do seu parceiro e que por isso não precisa mais prestar muita atenção nele? Você acha que o seu relacionamento está seguro e que, por isso, pode descuidar dele? Caso tenha respondido sim a estas três perguntas é provável que o seu amor vá definhar com o tempo. Procure a ajuda de um psicólogo para tentar reverter esse quadro.

Nenhum comentário: