O tratamento da timideZ, Quando a timidez deve ser tratada,Treinamento de Habilidades ...ETC


Embora a nossa sociedade manifeste preferência pela desinibição, certa dose de timidez é normal e tem um papel benéfico e saudável nos relacionamentos sociais. Uma dose moderada de timidez torna possível o convívio social. Importar-se com aquilo que as outras pessoas possam pensar a nosso respeito e com as consequências que elas poderão impor aos nossos comportamentos geralmente é eficiente para fazer que nos comportemos de forma aceitável.

As intensidades extremas da timidez, a timidez excessiva e a timidez muito diminuta, podem causar problemas. A pessoa que não se intimidada com nada pode incomodar porque essa desinibição excessiva a torna uma “cara de pau”, “invasiva” e “folgada”. Por outro lado, a pessoa que se intimida com tudo age de forma insegura e mais pobre do que ela é capaz.
A timidez é como o medo: quem não teme nada se expõe a grandes perigos, desagrada a todos e morre em dois tempos. Por outro lado, quem teme tudo acaba tendo uma vida muito restrita. Por exemplo, essa pessoa deixa de tomar iniciativas sociais e pode se portar apenas de forma reativa e, por isso, tornar-se chata e pouco estimulante.

Quando a timidez deve ser tratada

Embora haja divergência sobre a possibilidade de “cura” da timidez, os especialistas desta área concordam que existem tratamentos eficazes para combater os graus excessivos deste tipo de inibição.
O tímido deve procurar a ajuda de um psicólogo quando a sua timidez está provocando danos em alguma área da sua vida e ele não está conseguindo superar sozinho a sua inibição. Dentre essas áreas, aquelas onde ela causa mais prejuízo são as seguintes:
Autoestima. Geralmente as pessoas não gostam de ser tímidas e se julgam piores do que as outras quando não conseguem agir com desenvoltura. A nossa sociedade valoriza muito as pessoas desenvoltas, socialmente proativas e carismáticas. Por isso, os tímidos que não possuem essas características e que absorveram esses valores podem se sentir desvalorizados e se desvalorizarem.
Área acadêmica. O tímido pode sofrer sérios prejuízos acadêmicos porque ele não consegue apresentar satisfatoriamente trabalhos escolares na frente da classe, apresentar perguntas para o professor durante as aulas e participar de trabalhos em grupo.
Área profissional. A timidez pode ser um sério obstáculo para conseguir emprego: a timidez atrapalha seriamente o desempenho durante os processos seletivos que envolvem dinâmica de grupo, entrevistas e apresentações para bancas examinadoras. Nesta área, a timidez também pode ser um sério obstáculo para a ocupação de cargos que coloquem o tímido no centro das atenções, como chefiar equipes e participar ativamente de reuniões de chefes, gerentes e diretores.
Área amorosa. A timidez pode impedir o início de relacionamentos amorosos e prejudicar o desenvolvimento e manutenção desses relacionamentos. A timidez é fortemente ativada pela presença de pessoas que despertam grandes interesses amorosos. Muitos tímidos só namoram pessoas que tomam iniciativas amorosas com eles. Uma das coisas que desperta mais medo no tímido é abordar um desconhecido em local público, como nas baladas, com a finalidade de iniciar um relacionamento amoroso. Quando estão interessados em pessoas conhecidas, muitos tímidos são ineficientes para mostrar interesse amoroso durante os vários tipos de relacionamento que vão acontecendo com essas pessoas.

Tratamento da timidez

Existem tratamentos eficazes para combater a timidez. Alguns deles são a reestruturação cognitiva, a dessensibilização sistemática e o treinamento de habilidades sociais. Vamos examinar agora, brevemente, esses tratamentos.

Reestruturação cognitiva

Uma das abordagens mais eficientes para lidar com a timidez excessiva é a abordagem cognitivista. Essa abordagem parte do princípio que o principal motivo da timidez é a percepção distorcida e superdimensionada das ameaças apresentadas nos relacionamentos. 
O psicólogo pode ajudar o tímido a reestruturar as suas percepções das situações intimidantes e de suas condições para enfrentá-las. Algumas das técnicas utilizadas pelos psicólogos com esta finalidade são as seguintes:
Desidealização moderada da pessoa que será abordada. Um dos fatos que causa grande tensão durante os inícios de relacionamentos amorosos é achar que a pessoa que vai ser o alvo da abordagem é maravilhosa e insubstituível. Se esta pessoa é realmente tudo isso que o tímido está pensando, então a rejeição por parte dessa pessoa significaria mesmo uma perda irreparável. Sob essa concepção, a possibilidade de rejeição causa muita apreensão. Assim sendo, não errar e ser rejeitado se torna decisivo para não incorrer em tão grande perda.
Uma maneira produzir essa desidealização é pedir para o tímido convencer o terapeuta que a pessoa que o fascina é realmente maravilhosa. Em seguida, o terapeuta pede para o tímido convencê-lo de que tal pessoa tem muitos defeitos. Este tipo de exercício ajuda o tímido a entrar em contato com os defeitos e qualidades da pessoa admirada, tornando-a mais real. Obviamente o terapeuta não vai tentar desmerecer a pessoa que o cliente teme abordar.  O seu papel é ajudar o paciente a avaliar o seu possível parceiro de uma forma mais realística e correta.
Avaliação correta das consequências de fracassar na iniciativa amorosa. O tímido necessita avaliar corretamente as consequências de ser rejeitado em uma iniciativa amorosa. O terapeuta pode ajudá-lo a questionar se tais consequências são prováveis, se elas têm a gravidade que ele está imaginando e se ele teria condições de superá-las. Em geral é útil fazer com que o tímido imagine que ele já tomou a iniciativa amorosa e fracassou e que agora está sofrendo as consequências do fracasso. O terapeuta pode pedir que ele exagere a magnitude e os significados destas consequências para torná-las absurdas e divertidas.
Correção de erros de raciocínio. O tímido geralmente exagera o perigo da situação que ele se encontra através de várias distorções de raciocínio. Por exemplo, ele pode tirar conclusões a partir de evidências insuficientes, generalizar demais, ignorar evidências em contrário ao que ele está concluindo. A restruturação cognitiva deste tipo de erro é muito parecida com o trabalho de criticar as bases de um trabalho científico: apontar os erros, pedir provas, pedir para o cliente se basear nos mesmos dados para criar uma outra versão diferente daquela que ele está defendendo, etc.

Dessensibilização sistemática

Esse tipo de técnica é implementada através dos seguintes passos:
a- Ordenar os elementos da situação intimidante de acordo com seus poderes para evocar a timidez. Por exemplo, um paciente tem medo de abordar uma pessoa desconhecida que a atrai muito na área amorosa fez o seguinte detalhamento desta situação em ordem crescente de timidez que ele sentiria em cada uma delas:
1º.  Abordar uma pessoa que me atrai pouco e que está só no local
2º. Abordar uma pessoa que me atrai medianamente e que está só no local
3º. Abordar uma pessoa que me atrai muito e que está só no local
b- Relaxamento e exposição gradual ás situações causadoras de timidez. O terapeuta combina com o paciente que vão começar o tratamento pela situação que evoca a menor intensidade de timidez. Assim que esta situação deixar de evocar timidez, eles passarão a trabalhar com a situação seguinte, e assim por diante.
Para trabalhar com a timidez em cada uma dessas situações, o terapeuta ensina o paciente a relaxar e pede a ele que se imagine, o mais realisticamente possível, na situação que está sendo trabalhada. Por exemplo, ele pede ao paciente que imagine que está agindo de forma eficaz para iniciar o relacionamento amoroso e que o sucesso está acontecendo. O terapeuta também pode pedir para o paciente executar essas ações em situações reais, após as sessões terapêuticas.

Treinamento de Habilidades

Geralmente o paciente se beneficia de um treinamento de habilidades para iniciar um relacionamento amoroso. Esse benefício ocorre tanto quando existem déficits de habilidades nesta área e mesmo quando esses déficits não existem.  Os tímidos podem apresentar déficit de habilidades sociais porque geralmente eles evitam aquelas situações que provocam timidez. Por este motivo, eles acabam tendo menos oportunidades para desenvolver e fortalecer essas habilidades. As evidências indicam que a maioria dos tímidos não apresentam déficits de habilidades sociais. Por exemplo, quando os tímidos estão interagindo com pessoas que não despertam a timidez, eles se comportam de forma normal, o que atesta que eles possuem essas habilidades.
Os tímidos que não apresentam déficits sociais também podem se beneficiar de um treinamento dessas habilidades pelas seguintes razões:
- Durante o treinamento dessas habilidades, o terapeuta confirma que o tímido possui essas habilidades. Essa confirmação aumenta a autoconfiança do tímido e diminui o medo que ele tem de fracassar.
- Aquelas habilidades que estão supertreinadas têm menor probabilidade de serem inibidas em situações sociais tensas. Este fenômeno pode ser observado em outras habilidades como tocar piano. Um bom treinamento automatiza o desempenho e faz com que o pianista toque com maior fluência na frente da audiência. Quando uma habilidade está firmemente instalada, a excitação e a tensão provocadas pela audiência melhoram o desempenho. Quando a habilidade não está firmemente instalada, o desempenho fica prejudicado em situações de tensão e inibição.
- Durante este treinamento, o tímido se exporá à situação social que evoca a sua timidez. A presença do terapeuta ou do grupo terapêutico funciona como audiência benigna e compreensiva durante os ensaios do tímido para enfrentar as situações intimidantes. Esta exposição, na qual não ocorrem as consequências temidas, é uma das formas mais eficazes de extinguir os temores.
A timidez está atrapalhando a sua vida? Procure a ajuda de um psicólogo

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