Qual é o seu estilo de amor? A Teoria do Apego



Existem muitas teorias sobre o amor. Algumas delas têm boa base cientifica, geraram muitas pesquisas, são muito uteis para compreender esse fenômeno (sentimentos, pensamentos e ações amorosas), ajudam a melhorar a forma agir nos assuntos amorosos e são imprescindíveis para tratar daquelas pessoas que estão tendo problemas nesta área.
Muitas dessas teorias são complementares entre si e cada uma delas permite entender melhor um aspecto do amor. Para classificar os vários estilos de amor prefiro a teoria “Estilos de Amor”, do sociólogo canadense John Alan Lee. Para entender os ingredientes do amor, a melhor teoria é a Triangular, de Robert Sternberg. As teorias que explicam melhor como acontece o apaixonamento são a Teoria do Apaixonamento, de Stendhal (Henri-Marie Beyle) e da Expansão de Eu, de Arthur Aron. Para entender como as experiências na infância e na adolescência com pessoas significativas, principalmente as mães, influenciam a nossa vida afetiva, a melhor é a Teoria do Apego de John Bowlby.  Já abordei algumas dessas teorias em artigos anteriores. Vou tratar aqui dessa ultima teoria.

A Teoria do Apego de John Bowlby

Algumas pessoas são tranquilas quanto ao amor, encaram esse sentimento como um acontecimento altamente positivo, não estão ansiosas para amar e não fogem quando ele aparece. Outras encaram o amor com ansiedade: ele gera inseguranças, ciúmes e medo do abandono. Outras, ainda, se mantêm distantes do amor: se envolvem apenas de uma forma superficial e sentem-se desconfortáveis quando outras pessoas se envolvem com elas. A teoria do apego é muito boa para explicar essas diferenças na forma de amar.
John Bowlby, famoso psiquiatra inglês, baseou esta sua teoria em observações clínicas sobre a influência do estilo de apego de quem toma conta de uma criança, geralmente a sua mãe biológica, no estilo de apego que essa criança está desenvolvendo.
Segundo esta teoria, já nascemos com a capacidade de nos apegarmos a outras pessoas. Esta capacidade é extremamente útil para a nossa espécie. É difícil imaginar como sobreviveríamos e como seríamos socializados caso nascêssemos sem a capacidade de nos apegarmos firmemente aos nossos pais e vice-versa. Segundo esta teoria, a base dos diversos tipos de apego (amor materno, amor fraterno, amizade, amor romântico etc.) é a mesma: a capacidade inata de criar vínculo com outra pessoa. Cada tipo de apego, no entanto, tem as suas peculiaridades, as quais podem ser facilmente notadas quando se compara, por exemplo, o apego da criança pela mãe com o apego romântico entre um homem e uma mulher: apenas no caso do amor romântico existe o desejo sexual recíproco e certo equilíbrio de poder.
Embora a criança já nasça com a capacidade de se apegar, o estilo de apego específico que ela vai desenvolver depende, em grande parte, do estilo de apego de quem toma conta dela no primeiro ano de vida, geralmente a mãe. Mary Ainsworth, uma das principais colaboradoras de Bowlby, classificou os estilos de apego de quem toma conta da criança em três estilos: seguro, ansioso-ambivalente e evitativo. É raro encontrar uma mãe que tenha as características típicas de apenas um destes três estilos de apego. O mais comum é que elas tenham estilos de apego que são combinações, em diferentes dosagens, destes três estilos. Uma descrição sucinta dos três estilos de apego foi apresentada por Bowlby (1989):
Vários estudos vêm confirmando a existência de efeitos profundos e duradouros do estilo de apego de quem toma conta da criança no estilo de apego que esta desenvolverá na vida adulta. Estes estudos mostram, por exemplo, que as influências do estilo de apego do tomador de conta influência o estilo de cultivar uma amizade que a criança desenvolverá posteriormente com os seus pares. Outros estudos demonstram as influências do estilo de apego do tomador de conta no estilo de amor romântico de quem esteve aos seus cuidados. Vamos rever brevemente dois destes estudos.

Efeitos do estilo de apego da mãe no estilo de amizade dos filhos
Estudos recentes confirmam, de uma forma convincente, que a criança assimila e reproduz, ao crescer, o estilo de apego de quem tomou conta dela no primeiro ano de vida. Num destes estudos, os pesquisadores filmaram e analisaram os estilos de apegos dos adultos, enquanto estes interagiam com crianças durante seu primeiro ano de vida. Estas mesmas crianças, posteriormente, foram filmadas em várias ocasiões, durante doze anos, enquanto interagiam com seus pares. Os estilos de apegos exibidos pelas crianças nos relacionamentos com seus pares tinham várias semelhanças com os estilos de apegos daqueles que cuidaram delas no primeiro ano de vida.

Efeitos do estilo de apego da mãe no estilo de amor romântico

  Shaver, Hazan e Bradshaw (1988) realizaram uma pesquisa para verificar se havia relação entre os estilos de apego que as mães mostravam ao interagir com seus filhos durante o primeiro ano de suas vidas e os estilos de amor romântico que estes desenvolviam quando adultos. As autodescrições dos estilos de apego mostradas nos amores românticos dos adultos são apresentadas em seguida. Para ter uma ideia do quanto você se identifica com cada um destes estilos, dê uma nota de zero e dez para o quanto você concorda com cada uma das seguintes três afirmações (coloque uma nota dentro do parênteses que vem antes de cada afirmação.
(        ) Seguro. Eu acho relativamente fácil me aproximar de outras pessoas (nos tornarmos íntimos). Eu fico confortável dependendo delas e tendo-as como dependentes de mim. Eu não fico me preocupando com a possibilidade de ser abandonado ou com o fato dessa pessoa estar se tornando muito íntima comigo.
(       ) Evitativo.  Eu me sinto um tanto desconfortável quando fico muito íntimo com outras pessoas. Eu acho difícil confiar nelas completamente; também acho difícil permitir que eu dependa delas. Eu fico nervoso quando alguém fica muito íntimo comigo e, frequentemente, meus parceiros querem se tornarem mais íntimos, além do nível no qual eu me sinto confortável.
(       ) Ansioso-ambivalente.  Eu acho que as outras pessoas se sentem relutantes em ficar tão íntimas comigo quanto eu gostaria. Eu frequentemente me preocupo por achar que meu parceiro não me ama realmente ou não quer ficar comigo. Eu gostaria de me unir completamente com a outra pessoa e este desejo às vezes as afugenta.
ObservaçãoGeralmente cada pessoa se identifica com mais que uma das afirmações acima. O que varia entre as pessoas é o quanto elas se identificam com cada estilo de apego.
Na amostra de norte-americanos utilizada por estes três autores mais da metade das pessoas (56%) tinham o estilo seguro, e uma percentagem bem menor delas tinham o estilo evitativo (24%) e o estilo ansioso-ambivalente (20%). As percentagens de incidência destes dois últimos estilos são muito semelhantes entre si. Estas percentagens de incidência dos estilos de amor românticos são muito semelhantes àquelas verificadas nas crianças que foram estudadas por Ainsworth e colaboradores (1978): 66% seguros, 21% evitativos e 19% ansiosos-ambivalentes. Estas semelhanças nas percentagens de incidência dos estilos de apego em crianças e dos estilos de amor dos adultos reforça a hipótese de que estes estilos são decorrentes daqueles.
Este estudo também apresentou evidências de que quanto mais velha é a pessoa, menor é a influência do estilo de quem tomou conta dela na infância no seu estilo atual de amor atual. Este enfraquecimento da relação entre o estilo de apego do tomador de conta e o estilo de apego romântico do adulto é bastante razoável. O estilo de apego vai se alterando sob a influência de todas as experiências sociais que a pessoa vai tendo durante a sua vida: quando uma pessoa interage com um tio, com um avô como outras crianças e com os professores etc., os estilos de interação destes também afetam o estilo de apego da pessoa. Assim, quanto maior a idade de uma pessoa, maior é a quantidade de interações que ela já teve com outras pessoas e, desta forma, mais amplas são as fontes de influência que ajudaram a moldar o seu estilo de interação.

Modelos Mentais

 Shaver, Hazan e Bradshaw propuseram que as experiências precoces das crianças com seus cuidadores criariam uma espécie de modelo mental na criança que seria o veículo através do qual as influencias dessas experiências se perpetuariam e se transfeririam para outros tipos de relacionamentos. Esses modelos mentais seriam uma espécie de conclusão que as crianças e adolescentes tiram sobre as reações que elas provocam nos outros (carinho, confiança, etc.) e sobre o elas podem esperar dos outros (proteção, confiabilidade, frustrações, etc.).

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