Traição: perdoar, talvez. Passar em branco, jamais!



Neste artigo, vamos abordar os temas perdão, esquecimento de ofensas e a reformulação da imagem do ofensor. Embora o tipo de ofensa abordado aqui seja a traição, essa análise pode ser aplicada, com as devidas adaptações, a outros tipos de ofensas.

O que se passou com Mariane após descobrir a traição de Eduardo
Considere a seguinte história (fictícia) de Mariane e Eduardo. Como você reagiria, caso fosse Mariane ou Eduardo? Compare suas reações com as estatísticas apresentadas abaixo e tire suas conclusões!

Traição, perdão e redefinição da imagem do traidor e do relacionamento
Mariane e Eduardo foram apresentados por um amigo em comum e logo começaram a namorar. Três anos depois estavam casados. O casamento já durava onze anos quando sofreu um duro golpe.
Mariane confiava cegamente em Eduardo. Eles tinham um excelente padrão de vida, se davam muito bem, eram mutuamente carinhosos, eram muito amigos entre si, se davam muito bem com os parentes de ambos os lados e desfrutavam de um bom relacionamento sexual. Além de todas essas excelentes condições, tudo aquilo que Eduardo disse, pregou e fez desde que eles se conheceram e tudo que Mariane conhecia sobre os seus valores, o seu caráter, o valor que ele dava à família e a consideração que demonstrava por ela lhe deram a certeza que ele nunca iria traí-la.
Dá para imaginar o choque de Mariana quando ela constatou que Eduardo estava traindo-a. Ela começou a descobrir a traição quando, por acaso, foi usar o computador e verificou que Eduardo tinha deixado o seu e-mail aberto. Ela já ia fechá-lo para pode abrir a sua própria conta quando algumas mensagens chamaram a sua atenção devido ao nome da emissária e ao assunto registrado no cabeçalho. Embora não se sentisse muito bem com o que estava fazendo, abriu alguns dessas mensagens.  Chocada, começou a tomar ciência que ele estava tendo um caso. Após checar outras mensagens e suas contas telefônicas, ela descobriu que há dois anos ele estava tendo um caso com uma colega de trabalho.
O mundo de Mariana ruiu. Eduardo não era quem ela pensava. Grande crise, desconfianças, tentativas de terminar o relacionamento.
Ao ser confrontado e diante de tantas evidências, Eduardo admitiu o caso e, imediatamente, jurou que não amava essa colega, que era só sexo o que tinha com ela e que jamais pensou em deixar o casamento para ficar com ela. Rapidamente, ofereceu provas que havia terminado o relacionamento com a amante e se pôs a reparar, tanto quanto possível, os danos que tinha causado em Mariana e ao relacionamento.
Durante um bom tempo, Mariana ficou sem chão. Tudo aquilo que fazia sentido para ela, no casamento e na estrutura familiar, parecia falso e sem substância. Após muitas idas e vindas, ela acabou concluindo que o seu casamento tinha muita coisa boa e que Eduardo, apesar de tudo, tinha boas qualidades, estava arrependido e mortificado e estava se lutando, com todas as forças, para diminuir a sua dor, demonstrar o seu amor e manter o casamento.
Mariana admitiu também que a sua confiança cega em Eduardo era irreal: “Nenhum ser humano está acima de todas as tentações. Isso ainda é mais verdade quando esse ser humano é um homem”. Portanto, uma parte da sua decepção era devida à sua confiança absoluta e infundada em Eduardo, e isso não era culpa dele, mas ingenuidade sua. Ela também admitiu que toda aquela segurança na fidelidade de Eduardo fez que ela se descuidasse um pouco da sua aparência e feminilidade.
Mariana resolveu tentar salvar o casamento e trabalhar para assimilar a traição, tanto quanto possível. Talvez, com o tempo e com muita terapia, ela pudesse superar o distanciamento emocional que agora experimentava por Eduardo e o seu casamento pudesse se aproximar de novo daquilo que foi um dia. No entanto, ela jamais voltaria a acreditar que Eduardo era aquele homem totalmente confiável e integro, que um dia acreditou.
A sua imagem atual de Eduardo havia incorporado a possibilidade que ele voltasse a trair e mentir. Essa revisão de imagem estava tendo implicações naquilo que ela sentia por ele e no que podia esperar dele em todas as áreas. Ela também não se sentia mais tão compromissada com aquele casamento e com a sua fidelidade para o Eduardo. Talvez viesse a trai-lo também, para zerar a contabilidade e se vingar.

Reflexões

Pense nas suas reações, caso você fosse Mariana e, em seguida, caso fosse Eduardo e compare com os resultados da pesquisa abaixo.

Pesquisa sobre os efeitos da traição
Segundo uma pesquisa divulgada em 2011 pela revista Vip (ver a citação do artigo que divulgou esse outros resultados na Nota 1, que está no final dessa página).
- 18% das traições masculinas e 30% das traições femininas acabam em separação;
- 23% das traições masculinas e 28% das traições femininas foram superadas e o relacionamento continuou;
- Em 38% das traições masculinas e 29% das traições femininas o relacionamento continuou, mas nunca mais foi o mesmo.
- Em 21% das traições masculinas e em 13% das traições femininas, o relacionamento terminou por um tempo e depois voltou.
- 7% das traições masculinas e 25% das traições femininas aconteceram por vingança.

Você está perdoado, mas perdi boa parte da confiança em você!

Creio que todos já ouvimos frases como esta, deste título. Ela distingue o perdão da mudança de imagem do traidor e da mudança do relacionamento.  Vamos examinar essas distinções nos tópicos abaixo.

Perdoar

Você provavelmente já ouviu muito frases como essas:
“Você me perdoa?”
“Vamos esquecer tudo isso?”
“Vamos passar uma régua nisso tudo e recomeçar do zero”
“Só fiz isso uma vez. Você nunca vai me perdoar?
Perdoar é zerar a contabilidade, recuperar os sentimentos e continuar o relacionamento com quem foi perdoado, como se nada, ou quase nada, tivesse acontecido em relação àquilo que foi perdoado.
Claro que perdoar não é esquecer o que aconteceu. Perdoar é fazer com que aquilo que aconteceu não continue a influenciar os sentimentos, as ações e as atitudes daquele perdoou em relação àquele que foi perdoado. Esquecer é amnésia. Ninguém pediria para outra pessoa esquecer um fato grave ocorrido.
Conseguir perdoar e não ficar contabilizando tudo que aconteceu é imprescindível para que um bom relacionamento seja possível. Nada pior que conviver com alguém que guarda mágoas, que se lembra de todas as nossas falhas desde o momento que nos conhecemos, que anda sempre pesado, como se carregasse nas costas todas as mágoas provocadas por tudo de errado que lhe fizemos.

Conseguir perdoar

Conseguir perdoar depende da gravidade do ocorrido, da capacidade para perdoar de quem foi magoado, das medidas reparadoras de quem cometeu a falta e das vantagens e desvantagens proporcionadas pelo perdão. Algumas ações deixam marcar profundas e traumáticas. Cada um deve avaliar quão traumático é para si aquilo que ocorreu e as forças que estão operando em favor do perdão. Se a decisão é manter o relacionamento com a pessoa que traiu, é importante trabalhar para perdoá-la ou, pelo menos, para amenizar a gravidade do ocorrido.
Quem cometeu o ato danoso pode contribuir para que o perdão ocorra através das seguintes medidas: reconhecer o que fez, mostrar arrependimento, trabalhar para reparar os danos e, se possível, apresentar fatos que contribuam para amenizar os estragos causados pelos seus atos.

Quando redefinir a imagem do ofensor e do relacionamento que existe com ele é sábio

Embora a imagem que temos das pessoas com quem nos relacionamos tenha certa estabilidade, cada coisa que ela faz ou deixa de fazer provoca certo grau de correção nesta imagem. Quando aquilo que uma pessoa faz ou deixa de fazer condiz com as expectativas em relação a ela, a sua imagem é reforçada. Quando não condiz, a sua imagem é revista ou explicações são oferecidas para justificar a discrepância (“Ela não agiu do modo esperado porque não percebeu o que estava ocorrendo”). Quanto mais importante ou grave é aquilo que é feito, maior o poder para corrigir imagem do autor da ação.
Saber perdoar é um dom. Não aprender nada sobre quem cometeu a ofensa e sobre si próprio é uma estupidez.

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