Fabricante de malhas Malwee criará grife própria para o público plus size. Segmento já representa 50% do faturamento de lingeries da Duloren
A atriz global Mariana Xavier, de 33 anos, do alto
dos seus 83 quilos, fala em evolução gritante quando se trata de moda
plus size no Brasil nos últimos cinco anos. "Quem engordava parecia que
imediatamente ficava velha ou tinha que sair vestida de sofá, cortina ou
toalha de mesa. Era tudo estampado e careta", define.
Mariana
desfilou no primeiro desfile especializado em tamanhos grandes, em
2010. "As marcas começaram a perceber que não é porque estava acima do
peso que a pessoa queria ficar de fora das tendências de moda.
É possível se arrumar fora do padrão 38, Se sentir bonita, ter estilo".
Leia também: Dez marcas internacionais que desembarcaram no Brasil em 2013
Entre
as marcas que estão de olho no segmento, está a Malwee, que tem a
coleção "Grandes Abraços" e irá lançar uma marca própria para o segmento
plus size em junho; a Duloren, primeira marca de lingerie a apostar em
tamanhos grandes, e que foi seguida pela Valfrance, com o logo "Gostosa
demais para usar 38". Hoje, os tamanhos grandes correspondem a 50% do
faturamento da Duloren.
Grandes lojas de departamento, como C&A e Renner, já oferecem coleções plus size.
Seguindo o corpo da brasileira
O
que impulsionou as marcas a oferecer as coleções foi a transformação do
corpo da brasileira nos últimos 20 anos. "O ideal de beleza deixou de
ser um corpo magro e se tornou um corpo com curvas", diz a C&A, em
nota.
Além disso, 51% da população brasileira com mais
de 18 anos está acima do peso ideal, sendo que, entre as mulheres, o
número é de 48%.
Diante de insatisfação de consumidoras,
a Duloren entrou no segmento plus size em 2011, quando os tamanhos
grandes não passavam de 10% do negócio. Após campanhas ousadas, que
incentivavam a autoconfiança e exibiam modelos acima do peso, o negócio
atinge hoje 50% do faturamento da marca, conta a gerente de marketing da
marca, Denise Areal.
“
Há uma carência grande no segmento. Hoje vendemos mais G do que P" (Denise Areal, gerente de marketing da Duloren)
"Havia uma carência muito grande. Hoje vendemos mais
tamanho G do que P", comenta. "Os produtos continuam sendo corretivos,
modelam e valorizam a forma. Mas nas cores e estilo que elas querem".
Além
de trazer mais rentabilidade para a marca, já que o preço dos produtos
com modelagem especial chega a custar o dobro dos tradicionais, Denise
aponta que a consumidora é fiel. Após o sucesso, a marca passou a
agregar um modelo plus size na maioria de suas marcas.
A
estratégia bem sucedida não apenas atinge consumidoras acima do peso,
mas também aquelas com mais curvas. São 50 modelos especiais em tamanhos
grandes.
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A Malwee
participou do Fashion Weekend Plus Size em São Paulo em 2013 e vem
realizando pesquisas com consumidoras deste perfil e também sobre marcas
especializadas na Europa e nos Estados Unidos para entrar de vez no
segmento, com uma nova marca.
"O consumidor plus size está cada
dia mais buscando produtos modernos, alinhados às tendências da moda
mundial e que falem a linguagem da moda jovem contemporânea", diz a
empresa, em nota.Na C&A, a primeira coleção plus size, chamada “Special for You”, foi criada em 2011 e, todo mês, uma mini coleção já é oferecida nas lojas nos tamanhos 46 a 56. O caminho não está livre de gafes, como a campanha lançada com a cantora Preta Gil no ano passado. A rede de departamentos foi criticada por ter modelado a modelo artificialmente em fotos da campanha.
Empreendedores usam comércio eletrônico
O segmento também abre caminho para o
empreendedorismo. A blogueira e empresária do segmento Renata Poskus,
que organiza os desfiles anuais plus size, realizado neste final de
semana em São Paulo, já tem uma loja virtual que leva o nome do seu
blog, o Mulherão.
Isso
porque, enquanto os grandes centros ampliam a oferta de tamanhos
grandes, o interior dos Estados ainda fica para trás. A alternativa para
as gordinhas destes locais acaba sendo o comércio eletrônico. "Do que
vendo, 80% é para consumidora do interior de Estados, como Minas Gerais e
Rio". No segundo semestre, a ideia é abrir uma loja física em São
Paulo.
Levantamento feito por Mariana encontrou cerca de 200
confecções especializadas no País, e 50 lojas virtuais, que vendem desde
lingerie erótica até pijamas.Mercado ainda engatinha diante de custos
O mercado de moda plus size evolui, mas a passos lentos. O crescimento anual do segmento corresponde à metade da evolução da moda feminina, respectivamente 3% e 6%, segundo dados da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest).
O segmento ainda pode ser considerado um nicho, ainda que atenda cerca de metade da população do País – 51% dos brasileiros acima de 18 anos estão com sobrepeso, segundo o Ministério da Saúde.
De acordo com levantamento da Abravest, o
segmento plus size já representa cerca de 3% da moda feminina. Enquanto a
produção de peças de roupas para mulheres no País soma 3,02 bilhões, a
moda para gordinhas chega a 1 milhão de itens.
“
Enquanto um modelo tradicional leva 10 minutos para ser
produzido, o plus size precisa do dobro" (Denise Areal, gerente de
marketing da Duloren)
Antes, Mariana visitava um shopping e encontrava seu
tamanho 46 apenas em uma pequena loja. Hoje, encontra em quatro grandes
lojas. A atriz confessa que ainda é necessário esforço para encontrar
peças, mesmo para ela, que se define como garimpeira.
Isso porque o
custo de produção ainda é alto. Segundo Denise Areal, da Duloren, além
de mais tecido, é também empregada maior engenharia técnica nas peças.
"Enquanto um modelo básico leva cerca de 10 minutos para ser produzido, o
plus size leva o dobro, pois tem a função de sustentar, corrigir,
disfarçar e valorizar".Falta também mão de obra especializada, conta a blogueira Renata. Modelistas recebem altos salários diante de um mercado carente.
Padronização pode incentivar mercado
Roberto Chabad, presidente da Abravest, acredita que a padronização de medidas, que será colocada como norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e terá uso voluntário entre as empresas, pode impulsionar o mercado. "Ela irá acabar com o G e GG, que pode agregar do número 52 ao 60. Quem usar vai sair na frente e ganhar mercado".
Com a padronização, será possível, com a medida da entrecoxa, quadril, coxa, cintura e ombros, acertar mais a compra, diz o executivo. Este padrão de medidas já faz parte do vestuário norte-americano, considerado um mercado maduro de plus size.
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A expectativa é de que as medidas sejam definidas até o final do ano para mulheres. O novo padrão de medidas para homens já foi definido.
Para Mariana, a falta de padronização é um problema que a impede de comprar pela internet. "Existem lojas nas quais o GG não cabe nem em uma pessoa que veste número 38. Devia ter convênio com clínica terapêutica", brinca. "É mais fácil comprar nos Estados Unidos, principalmente calças".
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