Tecnologia foi desenvolvida por equipe liderada pelo cientista Miguel Nicolelis.
Paraplégico é Juliano Pinto, de 29 anos; treinamento foi na AACD.
O voluntário era Juliano Pinto, 29 anos, que tem paraplegia completa de tronco inferior e membros inferiores. Reveja a transmissão ao vivo do pontapé inicial (vídeo acima).
Inicialmente, a equipe de cientistas havia divulgado que o voluntário caminharia alguns passos para dar o simbólico "chute inaugural" do campeonato. Segundo o Comitê Organizador da Copa do Mundo, o "pontapé inicial" foi fora do campo de jogo, para não prejudicar o gramado por causa do peso do equipamento.
Após a demonstração, Nicolelis postou em seu Twitter a frase "We did it!!!!", que quer dizer, "conseguimos", na tradução do inglês. Em comunicado de imprensa, Nicolelis informou que “foi um grande trabalho de equipe e destaco, especialmente, os oito pacientes, que se dedicaram intensamente para este dia. Coube a Juliano usar o exoesqueleto, mas o chute foi de todos. Foi um grande gol dessas pessoas e da nossa ciência”.
saiba mais
Mais de 156 pesquisadores de vários países integraram um consórcio
responsável pela investigação científica, encabeçado pelo brasileiro
Miguel Nicolelis, professor da Universidade Duke, nos Estados Unidos, e
do Instituto Internacional de Neurociências de Natal – Edmond e Lily
Safra (IINN-ELS).O princípio envolvido no funcionamento do exoesqueleto é a chamada "interface cérebro-máquina", que vem sendo explorada por Nicolelis desde 1999. Esse tipo de conexão prevê que a "força do pensamento" seja capaz de controlar de maneira direta um equipamento externo ao corpo humano.
No caso do exoesqueleto do projeto "Andar de novo", uma touca especial vai captar as atividades elétricas do cérebro por eletroencefalografia. Quando o voluntário se imaginar caminhando por conta própria, os sinais produzidos por seu cérebro serão coletados pela touca e enviados a um computador que fica nas costas da veste robótica.
O computador decodifica essa mensagem e envia a ordem aos membros artificiais, que passarão a executar os movimentos imaginados pelo paraplégico. Ao mesmo tempo, sensores dispostos nos pés do voluntário enviam sinais para a roupa especial. A pessoa, então, sente uma vibração nos braços toda vez que o robô tocar o chão. É como se o tato dos pés fosse transferido para os braços, naquilo que Nicolelis chama de "pele artificial".
Testes
Juliano
Pinto, de 29 anos, que é paraplégico, deu um "chute simbólico" em uma
bola de futebol na abertura da Copa do Mundo, na Arena Corinthians. Ele
utilizou o exoesqueleto, equipamento desenvolvido pela equipe do
neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis (Foto: Reginaldo
Castro/Estadão Conteúdo)
A equipe do projeto está no Brasil desde março, trabalhando em um
laboratório montado dentro da Associação de Assistência à Criança
Deficiente (AACD), instituição parceira do "Andar de novo". Segundo nota
divulgada pela assessoria de imprensa do projeto, oito pessoas da AACD
já testaram o equipamento e, no dia 28 de maio, todos os "objetivos
científicos, clínicos e tecnológicos" foram concluídos.Em 16 de maio, Nicolelis já havia anunciado em sua conta no Facebook a conclusão dos testes com voluntários. "Depois de meses de treinamento, os últimos dois voluntários andaram com a ajuda do exoesqueleto e puderam desfrutar da sensação de andar de novo", escreveu o neurocientista. O pesquisador batizou o exoesqueleto de "BRA-Santos Dumont I".
Críticas
Antes de chegar a esse patamar de estudo, Nicolelis publicou em revistas científicas renomadas vários resultados envolvendo mecanismos da interface cérebro-máquina. Em um dos artigos mais recentes, um macaco foi capaz de controlar, só com a "força da mente", dois braços virtuais ao mesmo tempo. Mas, até o momento, os resultados dos testes do exoesqueleto em humanos ainda não foram publicados.
Segundo a assessoria de imprensa do projeto, os resultados finais serão apresentados nos próximos meses, por meio de publicações em revistas especializadas. Em entrevista à revista científica americana "Science" publicada na semana passada, Nicolelis afirmou que a apresentação no estádio do Corinthians era para a comunidade científica, mas para o público. "A demonstração para a comunidade científica virá em artigos, mais tarde", completou o brasileiro.
Uma das principais críticas que a comunidade científica tem sobre o "Andar de novo" é o fato de ele captar a atividade cerebral por meio de eletroencefalografia. Anteriormente, Nicolelis pretendia usar eletrodos implantados diretamente no cérebro. Questionado pela revista "Science" sobre essa mudança, o pesquisador respondeu que mudou de ideia depois de observar que os resultados de grupos que exploraram essa tecnologia eram "medíocres".
"Vimos que tínhamos um novo algoritmo para a eletroencefalografia que poderia fazer mais do que pensei no início", disse o neurocientista. Ele acrescentou que os implantes de eletrodos realmente funcionam melhor no caso da movimentação dos braços, mas não para locomoção.
De acordo com Nicolelis, essa demonstração é apenas o primeiro passo da pesquisa, que deve continuar a ser desenvolvida para que o exoesqueleto se torne uma alternativa viável de mobilidade para pessoas paralisadas. "Isso é apenas para aumentar a conscientização para o fato de que temos de 20 a 25 milhões de pessoas paralisadas ao redor do mundo, e que a ciência, se devidamente financiada e apoiada, pode fazer alguma coisa. Se começarmos agora – e esse é apenas um chute inicial simbólico – podemos conseguir fazer alguma coisa nos próximos anos."
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