Não basta ouvir. Tem que mostrar que está ouvindo! Você ouviu o que eu disse? Então repita



"Você ouviu o que eu disse? Então repita!"
Ouvir e mostrar que ouviu são duas coisas distintas, embora relacionadas. Uma pessoa pode ouvir muito bem o que está sendo dito pelo seu interlocutor sem mostrar nenhum sinal que isso está acontecendo. Por exemplo, ela pode ouvir enquanto finge que está dormindo, enquanto está oculta ou enquanto está atrás de quem está falando, como fazia Freud durante as suas sessões de terapia.
O contrário também é possível: uma pessoa pode apresentar sinais que está ouvindo o que está sendo dito quando, de fato, não está prestando atenção em nada. Isto ocorre, por exemplo, quando o ouvinte orienta a frente do seu corpo na direção do falante, inclina o tronco na sua direção e anui com a cabeça quando este faz pausas ou produz certas inflexões na voz, tudo isso sem ouvir nada do que está sendo dito.
Todas as ações praticadas pelo ouvinte, que podem ser interpretadas como reações ao que foi dito pelo interlocutor, são indicativas de que ele ouviu, da forma como aquilo que ouviu o afetou e da forma como ele gostaria que o falante procedesse. Por exemplo, quando o ouvinte relata um caso que ilustra muito bem aquilo uma afirmação anterior do seu interlocutor, isso significa que ele entendeu tal afirmação, lembrou do caso e se deu ao trabalho de relatá-lo.

Mostrar que está ouvindo é uma das tarefas do ouvinte ativo

Para ser um bom ouvinte não basta captar as mensagens do falante. Também é preciso ser ativo e mostrar que está captando e entendendo essas mensagens e como está reagindo a elas (interesse, espanto, revolta, etc.). Também é necessário ajudar o falante a gerenciar aquilo que ele está apresentando. Para isso, o ouvinte deve apresentar mensagens do tipo: fale mais, fale menos, apresente mais detalhes, explique melhor, etc. Todas as ações ou inações do ouvinte, que acontecem após uma comunicação  apresentada pelo seu interlocutor, são indicativas de que ele recebeu tal comunicação e do como reagiu a ela.

Dialogar exige bem mais do que “falar” e “ouvir”

Os termos “falante” e “ouvinte” dão uma ideia muito parcial das atividades que são desempenhadas pelos interlocutores de uma conversa. Esses termos dizem respeito apenas às mensagens sonoras que são trocadas durante a comunicação cara a cara. Durante esse tipo de comunicação, os interlocutores também apresentam muitas informações que podem ser captadas através de outros órgãos dos sentidos como, por exemplo, a visão (gestos, expressões faciais, posturas, etc.), o olfato (odores corporais e perfumes, etc.) e o tato (contato físico durante os cumprimentos, como expressão de afetos e para chamar a atenção).
O falante competente também não se limita a enviar mensagens. Ele também fica atento às reações do ouvinte. O ouvinte eficiente, ao mesmo tempo em que recebe as mensagens do falante, atua firmemente para orientá-lo, para incentivá-lo ou para desincentivá-lo e para mostrar suas reações às mensagens que está recebendo.
Para ser um bom ouvinte não basta captar as mensagens do falante. É preciso mostrar que está captando-as e entendendo-as. Também é necessário ajudar o falante a dosar aquilo que ele está apresentando (apresentar mensagens que indiquem: fale mais, fale menos, detalhe, explique, etc.) e apresentar informações sobre os efeitos que ele está provocando com a sua comunicação (interesse, espanto, revolta, etc.),
Todas as ações praticadas pelo ouvinte como reação ao que foi dito são indicativas de que ele ouviu e como isso o afetou e como ele quer que o falante proceda.

Sinais que ouviu e elaborou o que foi ouvido

Quando o ouvinte faz algum tipo de intervenção que só poderia ser apresentada quando a comunicação do seu interlocutor foi captada, entendida e elaborada, essa intervenção mostra, de maneira convincente, que o seu autor realmente captou a mensagem apresentada pelo seu interlocutor.
Exemplos que indicam que o ouvinte captou a comunicação e foi influenciada por ela: o ouvinte apresenta um comentário pertinente, resume o que o interlocutor disse ou age exatamente da forma que sugerida pelo interlocutor momentos antes (por exemplo, uma pessoa que está dirigindo vira toma a rua da  direita e para o carro, após ouvir esse tipo de orientação por parte do seu instrutor). 

Ouvir sem reagir pode não ser útil para o emissor das mensagens

Se o ouvinte não mostra que está ouvindo e os efeitos que as mensagens estão provocando nele, como o emissor vai adivinhar se as suas mensagens foram recebidas, compreendidas e os efeitos que elas provocaram no receptor? Além disso, a falta de reações do receptor pode fazer o emissor sentir-se desestimulado e até mesmo desrespeitado pela falta de atenção.

Exibição simulada dos sinais que está ouvindo

Diversos sinais relacionados com o ouvir podem ser apresentados sem que aquele que os apresenta realmente tenha ouvido. Isto ocorre, por exemplo, com a orientação do corpo na direção do falante, com a inclinação do tronco para frente, na direção de quem fala, e com o anuir com a cabeça para indicar que está acompanhando o que está sendo dito (tudo que é necessário para agir dessa forma é anuir com a cabeça quando o falante apresenta certos tipos de pausas e inflexões).
O exemplo mais típico disso ocorre na sala de aula, quando certos alunos inclinam o tronco para frente, na direção do professor, apoiam o queixo em uma palma da mão e olham na direção do professor. Todos esses comportamentos podem indicar que ele está prestando atenção na aula. No entanto, muitos que agem assim estão pensando em outras coisas ou devaneando.

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