Vamos examinar neste artigo algumas evidências sobre as distorções das percepções das nossas características pessoais e as consequências positivas e negativas que isso pode acarretar.
Coincidências e discrepâncias entre a auto e a hetero-imagem
Realizei uma pesquisa para verificar se existiam semelhanças e diferenças entre diversos aspectos da imagem que universitários tinham a seus próprios respeitos e as imagens que eles projetavam para os colegas ou para desconhecidos. Para realizar essa pesquisa, obtive avaliações de cinco estudantes universitários por parte de três tipos de avaliadores: (1) auto-avaliações, (2) avaliações realizadas pelos colegas de classe e (3) avaliações realizadas por desconhecidos que assistiram vídeos, com três minutos de duração, cada um dos quais mostrando um dos cinco estudantes enquanto realizava um teste de memória (os estudantes só souberam dos vídeos e autorizaram seus usos para a pesquisa após as gravações).
Todas essas avaliações foram realizadas através de um questionário contendo vinte e sete afirmações que as pessoas costumam fazer quando comentam sobre outras pessoas (afirmações sobre segurança, simpatia, inteligência, etc.).
Este estudo mostrou que havia muita variação nos resultados das comparações desses três tipos de avaliações. Quando as médias dessas avaliações foram comparadas duas a duas, verificou-se que elas podiam variar desde extremamente diferentes entre si até extremamente similares. Por exemplo, em certos casos, as auto-avaliações de um estudante eram muito semelhantes às avaliações realizadas pelos seus colegas de classe e pelos desconhecidos que tinham assistido ao seu vídeo. Outras vezes, essas auto-avaliações eram bem diferentes dos outros dois tipos de avaliações.
Existem evidências de que uma boa dose de semelhança entre a auto e a hetero-imagem é um sinal de saúde psicológica: este tipo de semelhança indica que a pessoa não tem uma imagem distorcida de si, nem para melhor nem para pior.
Porque muitas pessoas não imaginam como são percebidas pelos outros: o complô do silêncio
Geralmente não sabemos direito qual a imagem que as outras pessoas têm de nós, em áreas pouco objetivas como beleza, carisma, agradabilidade e sex appeal. Esta falta de conhecimento tem três causas principais: (1) possuímos defesas psicológicas que dificultam as percepções de nossas próprias características negativas e até mesmo de algumas nossas características positivas. Isso acontece quando as percepções corretas dessas características provocariam dor e ameaça. (2) Quando estamos em público “editamos” os nossos comportamentos: (a) omitimos ou atenuamos aquelas informações negativas a nosso respeito, (b) ostentamos aquelas características positivas que possuímos e (c) fingimos características positivas que não possuímos e (3) as outras pessoas, com quem interagimos, evitam nos informar abertamente sobre as nossas características negativas, para evitar consequências negativas para elas próprias e para nós. Na ausência de fortes motivos em contrário, elas fingem acreditar na imagem que estamos tentando passar.
Algumas evidências sobre distorções nas percepções e seus efeitos
Vários estudos vêm mostrando que aquilo que é percebido tem pode ter mais influência no comportamento humano do que aquilo que é “real”. Vamos examinar agora, resumidamente, alguns estudos que apresentaram evidências a esse respeito.
Quando os tímidos são pessimistas sobre seus próprios desempenhos.
Um pesquisador pediu para tímidos ministrarem uma palestra. Após a palestra pediu para que cada um deles avaliasse, através de um questionário, o seu próprio desempenho durante esta atividade. O pesquisador também pediu para que aqueles que assistiram às palestras que avaliassem os palestrantes através do mesmo questionário. A comparação das auto-avaliações dos tímidos com as avaliações daqueles que assistiram às suas palestras mostrou que os tímidos eram pessimistas sobre os próprios desempenhos: os tímidos tinham uma tendência para dar notas mais baixas para os seus próprios desempenhos do que aqueles que assistiram suas palestras.
Os autores dessa pesquisa apresentaram a hipótese de que os tímidos agiam assim porque eles estão muito mais cientes dos medos, das inseguranças e da profusão de pensamentos que estão ocorrendo em suas mentes enquanto apresentam a palestra. Aqueles que as assistiram, no entanto, têm pouco conhecimento de que estão ocorrendo tantas confusões e inquietações nas cabeças dos palestrantes . Os tímidos, ao apresentarem as palestras, mantinham boa parte destes distúrbios dentro de si e apresentavam apenas comportamentos “editados” que mostram uma intensidade bem menor de inquietações e confusões internas. Por exemplo, eles procuravam ocultar seus nervosismos e omitir as preocupações que os atormentavam enquanto estavam apresentando a palestra.
Consequências dos problemas de auto-estima.
As decorrências das variações da autoestima ilustram bem a conclusão de que a visão correta da realidade nem sempre é a melhor opção: as pessoas que são muito realistas a respeito delas próprias geralmente têm baixa autoestima. Quem tem boa autoestima geralmente é moderadamente otimista sobre si próprio. Este último tipo de pessoa tende a exagerar um pouco a percepção dos próprios méritos. No entanto, muito exagero nas auto-avaliações positivas não é típico das pessoas que têm boa autoestima. Essas pessoas geralmente têm problemas que as levam a distorcer forte e positivamente a autopercepção. Além disso, esta forma de agir geralmente leva a decisões erradas (por exemplo, a pessoa acaba sendo frequentemente rejeitada nas suas iniciativas amorosas porque sempre escolha pessoas superqualificadas que não se interessam por ela).
Efeitos da autoestima nas qualidades dos parceiros amorosos.
Um estudo mostrou que as pessoas com boa autoestima têm parceiros amorosos cujas características são mais valorizadas socialmente do que os parceiros das pessoas com baixa autoestima. Os autores desse estudo pediram a diversas pessoas que avaliassem os graus de atração dos participantes da pesquisa e de seus parceiros amorosos. Os autores também mediram autoestima dos participantes. Em seguida, esses autores realizaram testes estatísticos que mostraram que aquelas pessoas que tinham melhor autoestima tinham mais chance de também de terem parceiros mais atraentes do que aqueles que tinham baixa autoestima. Isso indica que uma parte do seu valor como parceiro amoroso vem da sua autoestima: as outras pessoas baseiam suas avaliações a seu respeito na sua própria autoavaliação.
A auto-avalição da própria beleza pode ser mais importante do que a avaliação por parte de outras pessoas.
Os autores de uma pesquisa pediram aos participantes que avaliassem os graus de beleza de seus próprios rostos. Em seguida, os rostos desses participantes foram avaliados por outras pessoas. Os autores também obtiveram várias medidas de sucesso social de cada uma dos participantes cujos rostos foram avaliados. As analises estatísticas desses resultados mostraram que as auto-avaliações da beleza facial estavam mais associadas à vários tipos de sucesso social do que as avaliações da beleza facial que foram apresentadas por outros avaliadores. Ou seja, dentro de certo limite, a sua própria avaliação do seu rosto importa mais do que as avaliações dos outros. Uma explicação razoável desses resultados é que a confiança na própria beleza acaba influenciando os próprios comportamentos positivamente, o que provoca mais sucesso social. Seguindo essa linha de raciocino, poderíamos afirmar que é mais importante uma pessoa usar algo que a deixa confiante do que as avaliações apresentadas por outras pessoas daquilo que ela esta usando.
Idealização das pessoas que gostamos
A idealização daquelas pessoas que gostamos é um fenômeno bem conhecido. Essa idealização vai desde aquela imagem positiva que temos dos amigos até as distorções positivas, mais óbvias, que as pessoas apresentam, a todo o momento, sobre as qualidades dos seus parentes, chegando até ao endeusamento que manifestamos pelos objetos das nossas paixões amorosas (quem ama avalia o amado melhor do que os amigos deste o avaliam. Lembrar que os amigos já distorcem positivamente estas avaliações).
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