Vamos examinar nesse artigo o papel do amor para iniciar e terminar um relacionamento amoroso. Vamos examinar também a importância da deterioração de outras condições que facilitam a convivência do casal que, ainda assim, pode não ser suficiente para terminar um relacionamento desse tipo. Vamos examinar ainda, brevemente, alguns motivos que ajudam a entender porque pode ser tão difícil terminar um relacionamento amoroso (os laços que mantém um bom relacionamento foram examinados em detalhes no meu livro "Para viver um grande amor", Editora Gente).
A importância do amor para iniciar e terminar relacionamentos amorosos
“Não a amo mais e, por isso, vou deixá-la.” Todos já ouvimos uma afirmação desse tipo. Quem afirma isso deixa subentendido que o amor é condição necessária para a manutenção do relacionamento conjugal. Quando o amor termina ou diminui abaixo de certo nível o relacionamento deve ser terminado? Vamos ver nesse artigo que não é tão simples assim terminar um relacionamento.
O amor é sim muito importante em um relacionamento conjugal, mas como vamos ver nos resultados de uma pesquisa internacional descrita logo abaixo, essa importância é imensa no início do relacionamento, mas depois outros fatores vão ganhando importância e também são levados em conta quando a possibilidade de sair desse tipo de relacionamento é cogitada. Esses fatores até podem determinar o fim de um relacionamento onde ainda há muito amor, mas a vida conjugal se tornou inviável devido a incompatibilidades em outros setores.
Um estudo intercultural, realizado por Levine e colaboradores, em onze países1 (o Brasil era um deles) procurou determinar a importância do amor no início e no fim do casamento. Esses autores perguntaram para os participantes da pesquisa se casariam sem amor com um parceiro que tivesse todas as qualidades desejáveis. A maioria dos participantes de países onde o coletivo é mais importante que o pessoal (Índia e Paquistão) afirmou que ou casaria sem amor ou ficaria em dúvida. A grande maioria dos participantes dos países ocidentais afirmou que não se casaria nessas condições (por exemplo, no Brasil 86% disseram que não casariam, 10% que ficariam em dúvida e 4% que se casariam). Os pesquisadores também perguntaram para essas mesmas pessoas se terminariam o casamento caso deixassem de amar os cônjuges. Quase ninguém afirmou que deixaria o casamento só por esse motivo. Ou seja, o amor é mais importante para iniciar um casamento do que para sair dele. Como entender isso?
Custos e benefícios decorrentes do término de um relacionamento
É muito comum perguntar por que certas pessoas permanecem em relacionamentos insatisfatórios. Por exemplo, por que uma pessoa que está sendo continuamente maltratada pelo companheiro, que não o ama mais, com quem faz sexo raramente e sem vontade e fica contente quando chega a segunda feira (porque durante a semana permanece menos tempo na sua presença) não sai desse relacionamento, apesar de tudo isso?
Muitos dos motivos que levam à permanência em relacionamentos desvantajosos ficam mais claro quando essas pessoas que neles permanecem são ouvidas com atenção e sem julgamentos. Muitos dos seus motivos são reais e razoáveis (geralmente são motivos do tipo “mal com ele, pior sem ele”). Por exemplo, a vida está estruturada com aquela pessoa (a administração da casa, a economia, a vida social, o relacionamento com os parentes e amigos), as dificuldades previstas para refazer a vida após separação e a tormenta que vai ter que ser enfrentada por ocasião da separação inibem esse tipo de iniciativa.
Quanto mais as vidas dos parceiros estiverem entrelaçadas, tanto na área material como nas áreas psicológica e social, mais difícil é a separação. Um estudo revelou que pessoas casadas há muito tempo podem levar até dez anos para se refazerem em todas essas áreas, após uma separação.
Muitos motivos que inibem a separação são frutos de percepções e avaliações errôneas e outros tipos de problemas psicológicos como, por exemplo, necessidades distorcidas (por exemplo, dependência da autoridade do parceiro), temores infundados (por exemplo, medo de não arranjar outro relacionamento naqueles casos onde isso é perfeitamente possível e provável) e avaliações errôneas (por exemplo, superestimar a complexidade das tarefas que vai ter que enfrentar na condução da própria vida sem a cooperação do parceiro). Esse tipo de motivo pode ser corrigido através de uma boa terapia.
Vergonha por considerar prós e contras?
Muita gente sente-se culpada e envergonhada quando revela que está considerando os custos e benefícios de sair ou permanecer em um relacionamento como os benefícios materiais, a qualidade de vida, o circulo de relacionamento e o medo de ficar só. Não há nenhum motivo para vergonha. Essas considerações são legítimas. O relacionamento envolve tudo isso. Diversos filmes e novelas é que são muito irrealistas quando pregam que o amor é tudo no relacionamento. Claro que certa dose de amor e sexo geralmente são imprescindíveis nesse tipo de relacionamento, pois são é exatamente esses dois itens que caracterizam o lado “conjugal” desse tipo de relacionamento. No entanto, o relacionamento é uma espécie de pacote que reúne muitos fatores que afetam os envolvidos. É legítimo considerar cada um desses fatores e suas respectivas importâncias, as quais variam muito entre as pessoas.
Sensação de comprometimento
A decisão de permanecer ou sair de um relacionamento só em parte é racional. Temos outros mecanismos psicológicos que ajudam a tomá-la. Segundo as pesquisas desenvolvidas por C. Rusbult e B.P. Buunk, famosos pesquisadores da qualidade e estabilidade dos relacionamentos2, a intensidade da sensação de comprometimento com uma pessoa é uma boa síntese inconsciente de todos os prós e contras desse relacionamento
Portanto a idéia de colocar os pros e contra em um papel podem ajudar, mas esse método está muito longe de capturar todos os fatores ou a natureza do mecanismo de decisão.
Geralmente a ajuda de um psicólogo especializado nessa área é muito útil para aqueles que estão tomando esse tipo de decisão. Esse profissional também ajudará a tomar medidas para cicatrizar as feridas e revigorar o relacionamento, caso a opção seja ficar, e a minorar os danos, caso seja separar-se.
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