O silêncio na conversa



O silêncio tem várias funções muito importantes na conversa. Existem dois tipos principais de silêncio na conversa. Um é aquele onde a fala deveria estar acontecendo, mas não está. É um silêncio indesejado e altamente incômodo. É um sinal que coisas ruins estão acontecendo na relação. O outro tipo é aquele onde o silêncio a dois é bem vindo e pode ser usufruído.
O silêncio comunicativo também pode ser percebido quando os interlocutores não estão em contato direto. Nesse caso, eles estão à distância e uma iniciativa de contato é esperada, mas não acontece. Por exemplo, um telefonema esperado não está ocorrendo. 
O silencio comunicativo pode assumir conotações que vão desde um extremo onde ele é altamente positivo, até outro extremo, onde ele é um péssimo sinal. Ele pode ser usado como uma ferramenta maravilhosa que dá vida á fala e estimula a conversa ou como uma rejeição acintosa do interlocutor ou do que ele está dizendo.

Tipos e funções do silêncio

A lista abaixo dá uma idéia da grande diversidade de tipos e de funções que o silêncio pode desempenhar na comunicação:
o        O silêncio do falante e o silêncio do ouvinte.
o        O silêncio de ambos, falante e ouvinte.
o        Pausas silenciosas: quem está com a palavra fica em silêncio enquanto elabora o que vai dizer em seguida.
o        O silêncio que enfatiza: precede ou segue algo importante que foi ou vai ser dito, respectivamente.
o        O silêncio constrangido
o        O silêncio devido à fala reprimida: acontece porque aquilo que teria para ser dito foi omitido devido às más consequências que isso traria.
o        O silencio da voz embargada
o        O silêncio do medo congelante
o        O silêncio por não ter interesses em comum com o interlocutor
o        O silêncio que acontece porque a mente está quieta e receptiva para os acontecimentos
o        O silêncio que acontece por imaginar que a fala não será bem recebida (“O meu silêncio foi maior/ E na distância morro/ Todo dia sem você saber” Música de Roberto Carlos e Erasmo Carlos: A Distância.).
o        O silêncio que acontece naqueles momentos onde uma pessoa está  passando a palavra para o interlocutor
o        O silêncio daqueles que já disseram o que tinham para dizer sobre um assunto.
o        O silêncio do inassertivo: acontece com aqueles que não têm coragem de dizer o que sentem e pensam.
o        O silêncio do tímido: este está tão intoxicado por emoções e pensamentos negativos e preocupações que não sobra mais espaço psicológico para pensar em nada relevante para dizer.
o        O silencio como técnica para levar o outro a falar

Um paciente lacônico: porque o silêncio?

Pedi a um paciente lacônico que me ajudasse a entender o seu silêncio. Levantei três possibilidades e pedi a ele que atribuísse notas para cada uma delas, de tal forma que a soma perfizesse um total de 100 pontos. Estas possibilidades e respectivas notas foram as seguintes: nota 10 para a falta de motivação para falar comigo; nota entre 60 ou 70 porque “dava branco” (não via nada para falar) e nota entre 20 ou 30 porque a censura o impedia de falar algumas coisas (editar coisas que poderia dizer).
Existe uma diferença importante entre pessoas que ficam em silêncio em determinadas condições e pessoas que geralmente são caladas em diversas situações e condições. Neste último caso, o motivo provável é disposicional: a pessoa tem uma tendência para falar pouco. No primeiro, pode ser uma reação adequada às circunstâncias.

Quando a tarefa de animar a conversa fica por conta do interlocutor.

Quando um interlocutor é lacônico e o outro sente necessidade de conversar, este pode assumir o encargo de animar a conversa.
Nesse caso, o “animador da conversa” corre pelo menos dois tipos de risco: (1) dominar a conversa e (2) impor assuntos desinteressantes (para ambos ou para um dos interlocutores). Além disso, geralmente é desagradável constatar que o interlocutor não está cooperando ou não quer conversar.

Timidez como causa do silêncio

A timidez provoca a ativação de temas incompatíveis com aqueles que seriam considerados apropriados para conversar: A consciência das reações fisiológicas, das emoções evocadas e as hipóteses atemorizadoras tomam boa parte da consciência e da atenção de quem está intimidado. Essas reações seriam os temas naturais da conversa para essa pessoa. Fica difícil prestar a atenção em outros temas mais fracos que poderiam estar surgindo. Quando isso acontece, a pessoa teme falar desses temas porque eles lhe parecem irrelevantes e porque ela teme que eles não teriam o impacto desejado no interlocutor.

Quando o silêncio é desconfortável durante uma conversa amorosa

No início de um relacionamento amoroso, quando há grande atração amorosa entre os amantes, a conversa acontece continuamente. Segundo Givens (1985), o falar, em si, é tão importante que mesmo nos encontros entre pessoas que não falam a mesma língua. As pessoas envolvidas, ainda assim, falam entre si o tempo todo, cada um na sua língua é claro, e sentem que estão se entendendo.
Segundo este mesmo autor, nos estágios iniciais de um relacionamento é muito difícil para os parceiros amorosos ficarem em silêncio quando estão juntos. Só quando eles já dormiram juntos é que conseguem ficar juntos e se deleitarem com estes momentos de silêncio. Esta mudança no significado do silêncio que geralmente aparece após a primeira relação sexual e é uma espécie de certificado de que o relacionamento já tem alguma base sólida e que, por isso, cada membro do casal pode relaxar um pouco da árdua tarefa de se fazer aceito e impressionar o outro.
Em uma pesquisa de Charlene Muehlenhard e outros (1986), uma moça que inicia uma conversa ao invés de permanecer em silêncio ao lado de um rapaz, e uma moça que retoma a palavra após um período de silêncio de mais que três segundos, quando ela foi a última a falar, eram vistas como pessoas que aceitariam um convite para um encontro com tais rapazes. Ou seja, estas moças estariam emitindo sinais fortes de interesse amoroso ao não permitir que ocorram silêncios embaraçosos entre elas e os rapazes.
             Conseguir manter uma conversa animada é um sinal de que os parceiros são mutuamente estimulantes, que eles se apreciam, que eles são boas companhias mútuas e que existe uma boa chance do relacionamento amoroso entre eles dar certo. Este tipo de sinal é reconhecido inconscientemente por quase todo mundo.
Um dos maiores temores dos tímidos no início desse tipo de relacionamento é não conseguir desenvolver uma conversa interessante e, por este motivo, estragar o encontro por não saber lidar com os longos silêncios constrangedores que vão acontecendo. Quando os momentos de silêncio começam a ocorrer mais freqüentemente e começam a durar mais tempo do que no início da conversa, os participantes começam a ficar com a sensação que o encontro está fracassando, que casal não está se dando bem, não está se entrosando e que uma, ou ambas, as partes não tem interesse amoroso na outra.
Esta sensação de fracasso é, até certo ponto, justificada porque quando as pessoas sentem atração amorosa mútua elas também querem se conhecer mutuamente através da conversa. Além disso, o encontro entre duas pessoas que sentem grande atração amorosa mútua é excitante, o que também estimula a conversa. O silêncio parece indicar que nada disso está ocorrendo.
            Muitas vezes, no entanto, o silêncio embaraçoso e a falta de uma conversa estimulante ocorrem simplesmente porque os participantes não dominam as habilidades básicas para estimular uma conversa ou porque temem ocupar um papel mais ativo na conversa. No meu consultório ajudo quem tem esse tipo de problema a desenvolver algumas técnicas que são muito úteis para conversar e a combater temores infundados de exercer um papel mais ativo na conversa, tanto no papel de falante como no de ouvinte.

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