No luto pela perda de um filho, é necessário chorar e sofrer


O que dizer a uma mãe ou a um pai que acabou de perder seu filho? Há momentos em que não existem palavras para expressar os sentimentos. Esse é um deles. Quando essa situação atinge mais de 200 famílias de uma só vez, de maneira trágica como a que ocorreu em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, a situação parece fora da realidade. Muito provavelmente é assim que os pais se sentem ao se depararem com a morte de um filho – em um outro mundo.
A não ser quem já passou por situação semelhante, o máximo que se se consegue é imaginar a dor vivida. E olhe lá. Recordo-me de uma jovem senhora que perdeu seu único filho em um acidente. Seu sofrimento parecia não acabar. Certa vez, ela disse que ninguém sabia o que estava sentindo, e tinha razão. Isso ata as mãos daqueles que desejam fazer algo para amenizar o sofrimento.
Nesse sentido, usualmente as pessoas procuram lembrar os enlutados de que o tempo cura tudo, de que é preciso ser forte e não esmorecer. Falam de Deus, que foi seu desejo e que a pessoa está num lugar melhor. Ora, são apenas palavras ao vento. É necessário chorar e sofrer, não há alternativa. A impressão que dá é que o sofrimento prolonga a existência daquele ser tão amado. Para os que estão por perto, se puderem oferecer um ombro amigo e suportar o sofrimento alheio, é o suficiente. Nada servirá de consolo, principalmente na morte de um filho.
Para alguns, não tocar no nome daquele que partiu parece melhor alternativa, assim, ninguém ficará pensando nele. Como se isso fosse possível. Até porque, quando se perde alguém, o que mais se deseja é falar daquela pessoa, tornando-o mais vivo do que nunca, impedindo-o de cair no esquecimento.
Ainda mais no caso de pais, principalmente as mães, cujo assunto predileto são os filhos. Como desviá-los de tema tão importante? Existe a ideia, da qual compartilho, de que o pior luto para uma pessoa é o de um filho. O que pode ser entendido pelo próprio processo do luto em si – sua intensidade é proporcional ao vínculo estabelecido com o objeto perdido. Isso torna a necessidade de falar ainda maior.
Mas talvez a grande tristeza dessas mães e desses pais tenha sido expressada por uma mãe de três jovens garotas. Segundo ela, seu maior medo é, em uma situação dessas, não estar junto das filhas para protegê-las. Isso esses pais não puderam fazer.
O luto passa e deixa um trabalho importante, que é o de retornar a vida. Porém, que ninguém cobre desses pais e de outros que perderam seus filhos que tudo volte a ser igual. As marcas ficam, apesar do tempo.

Nenhum comentário: