Você ama o amor ou o seu parceiro?



Você costuma se apaixonar sem conhecer direito o parceiro e, depois que se apaixona, tende a desculpar, ignorar e a assimilar todas as características do amado, mesmo quando elas são desagradáveis e incompatíveis com as suas? Neste caso, você ama o amor, mas não o seu parceiro.
Uma vez que o amor dispara, tendemos a aceitar incondicionalmente o amado. Desligamos o nosso sistema de alerta e ligamos o modo lealdade e assimilação. Algumas pessoas exageram na dose quando agem dessa forma.

Alguns exemplos de pessoas que amam o amor

Muita gente está pronta para amor e já está pré-programada para sentir, pensar e agir romanticamente quando conhece alguém que dispare esse programa. Para estas pessoas, basta encontrar “alguém para chamar de seu” que todo aquele romantismo é automaticamente disparado. O parceiro não precisa ter nada de especial e não fazer quase nada. Veja abaixo alguns exemplos deste fenômeno.

Irrealismo, romantismo e carência sustentam a ficção sobre o parceiro.


Mariana ama o amor e está carente
 Na área amorosa, Mariana não dava muito importância para os fatos, mas, sim, para suas versões. Além disso, ela era muito romântica e estava carente. Mariana concedia, aprioristicamente, muito crédito para a pessoa que estava conhecendo e fechava os olhos para as informações que desabonassem um possível parceiro amoroso. Adorava filmes tipo love story, chorava quando ouvia músicas românticas e invejava os pares de namorados que, todo dia, encontrava no seu caminho. Fazia muito tempo que não namorava e isto acentuou suas necessidades amorosas.
Quando era mais nova, Mariana era muito exigente com os seus pretendentes. Tinha uma longa lista de atributos que considerava imprescindíveis e, quando o pretendente não atendia a qualquer um deles, ele era sumariamente descartado. Depois de um tempo sem conseguir iniciar um namoro, ela "foi deixando por menos". Algum tempo depois, essa lista ficou reduzida a alguns poucos requisitos: gentileza, idade, nível estado civil e escolaridade. Após mais um tempo de "secura", ela reduziu mais ainda as suas exigências e, agora, estava disposta a iniciar um relacionamento com quase qualquer um que a quisesse.

Paixão instantânea na internet
Ele havia acabado de fazer contato com uma mulher em uma sala de bate papos. Uma breve troca de informações sobre características pessoais, uma conversinha agradável e insinuante e pronto: ele já estava fascinado pela interlocutora quase completamente desconhecida. O seu amor estava à flor da pele. Bastava um pequeno estímulo para que ele jorrasse abundantemente. A sua imaginação preenchia todas as lacunas. O outro era apenas um detalhe.

Fascínio instantâneo na balada
Lá estava ela na balada. Como sempre, havia uma grande chance que se apaixonasse por alguém naquela noite. Em primeiro lugar, localizava alguém do seu tipo: porte altivo; circunspecto; sorriso bonito, mas discreto; forma elegante e discreta de se vestir. Em seguida, caso essa pessoa lhe desse  alguma bola, mas não lhe desse muita segurança do seu interesse, pronto! Em minutos ela ficava fascinada pelo desconhecido. Pelo resto da noite ela ficava concentrada nesta pessoa e tudo o mais na balada perdia boa parte o brilho. Cada pequeno avanço com o desconhecido fascinante passava a ser comemorado: agora a pessoa estava notando o seu olhar insistente. Ele estava rodeando. Ele estava sempre com o rosto orientado na sua direção: estava conversando com amigos, mas fazia questão de manter-se voltada para ela. Cada um destes avanços era comemorado por ela

A natureza da miopia amorosa

É natural apresentar uma versão melhorada de nós mesmos para o parceiro

No início do relacionamento, fazemos esforços para sermos aceitos pelo parceiro. Por isso, tendemos a ressaltar e exagerar um pouco o que temos de melhor e a omitir e disfarçar aquilo que temos de pior. Assim, caprichamos na aparência, nos mostramos mais dispostos e otimistas, aumentamos as gentilezas e ficamos mais atenciosos com o parceiro. Depois de um tempo, vamos “baixando as cartas” e mostrando a nossa forma mais costumeira de ser.

Idealização

A idealização é um ingrediente natural do amor. Tendemos a ver o parceiro como muito mais especial e fascinante do que ele realmente é. Um estudo mostrou que tendemos a ver o amado como sendo muito mais dotado de qualidades do que os seus amigos o veem. Como geralmente os amigos já se veem de forma otimista e benévola, isso significa que quem está apaixonado distorce positivamente a visão do amado ainda mais do que os amigos costumam fazer.

O amor é míope e o namoro, um bom par de óculos

Embora um bom grau de idealização e a apresentação de uma imagem melhorada para o parceiro sejam fenômentos saudáveis e normais nos inícios de relacionamentos amorosos, é esperado que uma boa parte daquelas distorções perceptuais mais graves provocadas por estes dois fenômenos sejam corrigidas à medida que as pessoas vão se conhecendo durante o namoro. O namoro tem este propósito: permitir que os enamorados corrijam suas impressões mútuas iniciais e testem suas compatibilidades antes de avançar para um estágio do relacionamento que tenha um maior grau de compromisso.
No entanto, algumas pessoas, mesmo após um bom tempo de namoro, continuam com a cabeça na lua e teimam em não ver a pessoa real que está ali ao seu lado. Elas precisam muito pouco do companheiro para viver os seus amores. Elas adoram pensar que estão namorando, sair com o namorado, ter uma agenda e uma rotina com eles. Por exemplo, elas dão pouca importância para os indícios de esses namorados vão fracassar profissionalmente ou de que eles são displicentes em seus compromissos. Para elas, mais importante que tudo isso, é sentir que a aspiração de ter um relacionamento amoroso  está sendo realizada.

Quando a miopia persiste

Muitas pessoas se apaixonam à primeira vista. Dentre essas, algumas ficam atentas para conferir, logo em seguida, se o parceiro possui as qualidades desejadas ou se possui defeitos intoleráveis. Caso ele não mostre tais qualidades ou revele tais defeitos, o apaixonado se decepciona e o amor acaba (John Alan Lee, sociólogo canadense, classificou este estilo de amor como “Eros”). Outras pessoas, (“Maníacas”, na classificação deste mesmo autor), após se apaixonarem, ficam persistem na idealização das qualidades do parceiro e ficam bastante insensíveis aos seus possíveis defeitos que vão sendo revelados no transcurso do relacionamento. Elas tendem a perdoar tudo e a desculpar tudo que eles fazem. Esta forma de amar lembra o amor incondicional mostrado por mães em relação aos filhos. Por pior que eles se tornem, por mais coisas ruins que façam, esse amor ainda persiste.
Quando se trata do relacionamento amoroso, este tipo de distorção persistente não produz relacionamentos felizes e estáveis. Trata-se de um relacionamento sem bases sólidas e que se mantêm graças às distorções perceptuais daqueles que não têm condições de encarar a realidade.
Boa parte deste tipo de miopia sobre o parceiro persiste durante toda a vida. Existem estimativas que pessoas casadas há muito tempo só conhecem cerca de 50% das características de seus parceiros (acertam só metade das perguntas sobre suas reações, valores, modos de pensar, decidir, etc.).

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