A busca por um projeto de vida e a necessidade de amadurecer


Os jovens em ano de vestibular costumam se queixar basicamente de duas coisas. Uma delas é a dificuldade de escolherem uma carreira diante de tantas possibilidades. A outra, que os angustia mais, é sentirem que não vão conseguir passar na prova, ou tão pouco estarem preparados para ela.
Este exame parece o ápice de toda a escolaridade.  Falou-se muito dele durante a vida escolar. No ensino médio, é tingido por cores carregadas e constitui um fim em si mesmo: objetiva-se a aprovação no vestibular como confirmação de sua competência e da instituição que o preparou. Não como acesso para uma nova etapa da vida.
Todo o barulho em torno do vestibular acaba, muitas vezes, encobrindo os verdadeiros temores enfrentados nesta época.
Trabalhando com jovens em orientação profissional, tenho me deparado com questões emocionais cuja resolução precede a própria escolha. Em verdade, eles já vêm quase decididos pela carreira. No entanto, esbarram no medo de não darem conta de enfrentar uma faculdade e tudo aquilo que a envolve. O que, em última instância, é o temor de se tornarem independentes de seus pais e conseguirem se virar sozinhos.
Até então, apesar de demonstrarem certa impaciência com eles e tentarem a todo o momento comandarem suas vidas, receiam serem lançados à própria sorte. Percebem serem imaturos.
Junto disso, também se incomodam com a ideia de estarem deixando para trás os próprios pais que, assim como eles, têm seus temores: de que sofram na vida ou que deixem o lugar de filhos/crianças. Não é fácil crescer e muito menos ver os filhos crescerem.
Assim, muitos estudantes chegam ao cursinho ou terceiro ano do ensino médio, bastante desestimulados para estudar. Às vezes, sempre foram alunos bons e responsáveis, mas passam o estudo para o último plano, como se regredissem. É isso mesmo, parecem voltar para um tempo em que decisões e caminhos desconhecidos não faziam parte do contexto.
Para muitos pais, o jovem se tornou um vagabundo ou irresponsável, um ser alienado, que não quer saber de nada, e por aí vai. O que eles não percebem, tomados pela angústia de prepararem o filho para quando não existirem mais, é o medo que ele está de seguir adiante.
Esta é a vida. Existe um tempo em que temos que seguir adiante. O que não significa que pais e filhos não estarão mais juntos. Se puderem encarar essas questões e conversarem sobre elas, quem sabe poderão enfrentar de modo mais tranquilo esta nova etapa.

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