As redes sociais no Brasil e o monitoramento
O “Estadão” publicou uma reportagem informando que, devido aos protestos no Brasil, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do Palácio do Planalto havia convocado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar as redes sociais, como Twitter, Facebook e WhatsApp, para tentar antecipar informações como a realização de protestos, os motivos e também os trajetos dos manifestantes. Os agentes haviam sido realocados para garantir a segurança da Copa, mas, com a crise interna, o foco se voltou para as redes sociais.Questionado pela coluna Segurança Digital, o GSI não informou se um grupo havia sido realmente montado às pressas para monitorar as redes sociais. O comunicado ressalta apenas que o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) é formado por “cerca de 30 órgãos de 15 ministérios” e que os órgãos que compõem o Sisbin “utilizam-se dos meios necessários aos exercícios de suas atribuições”.Dito isso, nada foi muito esclarecido, especialmente quanto à questão do “WhatsApp”. O tráfego do WhatsApp hoje é criptografado, ou seja, codificado de forma a resguardar a privacidade da mensagem durante a transmissão. Isso significa que a Abin precisaria de uma cooperação específica dos mantenedores do WhatsApp para obter as mensagens trocadas entre brasileiros.Fora isso, os nomes do Facebook e Twitter não trazem muitas novidades. São redes com muito conteúdo público, que o governo norte-americano, por exemplo, já monitora há bastante tempo. Há inclusive uma série de “palavras-chave” observadas pelos sistemas de monitoramento das agências de inteligência para facilitar o descobrimento de conteúdos de interesse do governo.É desnecessário, portanto, que o governo tenha qualquer acordo de cooperação ou mesmo uma permissão especial para monitorar as redes sociais. Organizar o conteúdo público é suficiente para construir um “mapa” das manifestações, das demandas e de seus principais ativistas.Esta mesma coluna já havia antecipado que uma das respostas naturais do governo diante do papel da internet nas manifestações era monitorar, observar e agir, mesmo que apenas na construção de um discurso político em sintonia com os protestos. Outra resposta seria aumentar as formas de participação direta e a relação do governo com o cidadão.Até agora, só temos notícia do monitoramento. Talvez ele até seja positivo para que o governo compreenda o que precisa fazer. Talvez ele seja usado para fins de opressão e enfraquecimento do movimento. Ao mesmo tempo, é fantasioso achar ser possível manter um segredo compartilhado pelas centenas de milhares de pessoas que participam da manifestação. E precisa esconder? Nesse caso, não.Mas se você tem algo a esconder, não esconda na internet.
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