Se hoje em dia as aulas de anatomia das universidades acontecem em locais fechados, bem longe do público, e são raros os corpos doados para o aprendizado de futuros médicos, no passado a coisa era um pouco diferente. Pelo menos é isso que mostra o quadro A lição de anatomia do Doutor Nicolaes Tulp, uma das obras mais famosas de toda a história da arte.
Ela foi criada por Rembrandt (1606 – 1669), pintor holandês que figura na lista dos maiores artistas plásticos de todos os tempos. O quadro em questão foi feito em 1632. Na época, as lições de anatomia eram grandes eventos públicos, realizados em auditórios com lotação máxima.
A obra de Rembrandt retrata um encontro da guilda de cirurgiões de Amsterdã (um tipo de sociedade médica). O médico que disseca o braço é o próprio Doutor Tulp (1593 – 1674), um dos mais importantes cirurgiões da época. Ele foi, inclusive, prefeito de Amsterdã por quatro mandatos. Tulp, no momento captado por Rembrandt, está seccionando o antebraço direito do cadáver, cortando músculos e tendões.
Os alunos da imagem são homens que pagaram caro para estar ali. Eles queriam ter uma posição de destaque, no camarote desse show científico. Por fim, esses homens acabaram imortalizados, na obra do jovem Rembrandt, que tinha apenas 26 anos.
Dá para perceber que alguns desses alunos estavam mais preocupados em aparecer para o restante do público do que na própria dissecção em si. Inclusive, o homem que está olhando diretamente para o espectador, com cara de assustado, segura uma lista com os nomes dos participantes da autópsia.
O corpo utilizado para fazer a dissecação era do ladrão Adriaen Kint, condenado à morte por enforcamento no dia anterior. Uma lei da época só permitia essas lições de anatomia no período de inverno, em que os corpos aguentavam por mais tempo antes de começar a se decompor.
Mais uma curiosidade: especula-se que o livro aberto, no canto inferior direito da obra, é o DeHumanis Corpore Fabrica, do também holandês Andreas Vessalium (1514 – 1564), considerado o pai da anatomia moderna.
O quadro é uma prova do quanto a medicina evoluiu nesses quatro séculos. Hoje em dia,modelos em 3D permitem, em muitos casos, a aprendizagem da anatomia humana, sem que para isso precisem ser utilizados muitos cadáveres.
A obra é feita em óleo sobre tela, no tamanho de 169,5 X 216,5 centímetros e está exposto no museu Mauritshuis, em Haia, na Holanda.
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