Não há quem não comente sobre as situações violentas e incompreensíveis que vêm ocorrendo nos últimos tempos. O medo tem sido uma constância. Não sabemos bem o que pensar, principalmente quando as justificativas para atos de barbáries são frágeis.
Mata-se por nada, de maneira cruel, como o caso da dentista queimada em seu consultório por não ter dinheiro. A cena se repetiu numa cidade do interior, onde se imagina que a violência exista em proporção inferior a dos grandes centros. E assim como esses, vários outros têm acontecido.
As pessoas pouco se importam com as outras e menos ainda parecem sentir culpa pelo que fazem, a exemplo de Meursault, personagem de Albert Camus no romance “O Estrangeiro”. Nesta história, o protagonista é um homem que não liga para nada a não ser a si próprio: não sofre a morte da mãe por ter muito sono e mata um semelhante por se perturbar com o calor.
Resolver o problema da violência como um todo está fora do nosso poder. Seja como pais, educadores ou cidadãos. Também não adianta cruzarmos os braços e nos atermos ao velho discurso, mesmo que verdadeiro, de que a pobreza, falta de educação ou um sistema de justiça atrapalhado são fatores únicos nesta questão.
Temos que pensar o que podemos fazer para criar nossos filhos de maneira diferente, em que as coisas e as pessoas tenham realmente valor.
Hoje, temos vivido a era do descartável. Nada mais é consertado ou aproveitado (indo na contramão da sustentabilidade – por mais que se saiba da necessidade do reaproveitamento das coisas, isso pouco se faz). Inclusive nas relações pessoais. Por exemplo, ninguém mais dá o tempo necessário para se construir um casamento. Não interessou mais ou está difícil, divorcia-se.
Ou então, ao sair a boneca ou o carrinho de um modelo mais novo, o antigo é trocado, mesmo que mude só a roupinha ou a cor. Para, assim que ganhar, o produto ser deixado de lado (há novas coisas no mercado).
Se o filho tem um problema com alguém, seja criança ou adulto, os pais logo interferem. Não para ajudar em sua resolução, através de uma conversa, por exemplo. Mas simplesmente para tirar satisfação e proteger a prole de qualquer contratempo (‘Coitadinho, tenho que protegê-lo do mundo!’). Pode-se fazer tudo, o superpai (ou supermãe) logo irá salvá-lo.
Simplesmente não estamos criando nossos filhos com a possibilidade de sentirem a falta e, consequentemente, construírem modos possíveis de conseguirem aquilo que querem. Em que o outro é levado em conta, dentro de suas necessidades e direitos. Como o mais básico que é a vida. Apenas há espaço para o querer desenfreado e imediato e para o tirar da frente aquilo que atrapalha.
Se pudermos ao menos ensiná-los a valorizarem o que têm, já será de bom tamanho. Inclusive a sua vida e a do outro. Há espaço para todos. Basta se dar conta disto e respeitar os limites.
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