- A perda traz sofrimento mesmo quando se trata de algo que não lhe faz bem, como uma relação fracassada
Perder não é fácil, mesmo que signifique abrir mão de algo que não apresenta mais benefícios: um relacionamento fracassado, um emprego que não traz prazer ou aquela roupa que, há anos, não serve mais.
Para a terapeuta comportamental Denise Pará Diniz, psicóloga do Setor de Estresse e Qualidade de Vida da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), qualquer esforço para adaptar-se a uma situação nova gera estresse. "Perder sempre é muito difícil, pois provoca insegurança. Mas isso só passa a ser um problema se o individuo não se sentir capaz de buscar algo novo", diz a especialista.
A psicóloga Fernanda Mion diz que é natural as pessoas caírem na armadilha do conformismo, contentando-se com uma situação morna. "Mudanças trazem desconforto, e quando alguns valores, crenças, paradigmas e dogmas estão envolvidos, pode ser mais difícil ainda enfrentar a situação", diz Fernanda.
Ela comenta que nem sempre o indivíduo tem consciência de seus medos, acostumando-se a conviver com eles. "E isso pode impedi-lo de realizar desejos, como ter um relacionamento bem-sucedido ou conseguir um emprego que lhe traga mais benefícios", diz.
É comum, segundo Fernanda, a pessoa se convencer de que não vale a pena ir a uma entrevista de emprego, por exemplo. Ela diz a si mesma que considera o local muito longe ou que o salário não é justo, mas, no fundo, está criando obstáculos por medo de ser reprovado. Por isso, Denise afirma que é importante avaliar em qual intensidade e com qual frequência o temor se manifesta. E ele pode ser identificado em duas fases distintas: apego irracional e receio de enfrentar o novo.
No primeiro caso, Denise explica que a própria pessoa nem se dá conta do problema. "É o caso de pessoas que se mantêm em um relacionamento nocivo e não conseguem por um ponto final, por exemplo. Em situações assim, a ajuda de um especialista pode ser essencial para que o paciente consiga identificar o problema", diz Denise. Passada essa fase, é possível que seja identificado o medo do novo.
"Há quem prefira manter-se em uma zona de conforto mesmo que haja desconforto", afirma o psiquiatra Eduardo Ferreira Santos, médico formado pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo). De acordo com Santos, um casamento fracassado pode não ter mais amor e afeto, mas envolver status, dinheiro e religião, e o indivíduo pode não querer perder isso tudo.
"O apego irracional é motivado por emoções, muitas vezes inconscientes, e são movidas por quatro gigantes da alma: o medo, a insegurança, a angústia e a ansiedade". Segundo o psiquiatra, o medo de mudar ocorre devido a uma ameaça emocional. "Cada caso tem de ser avaliado individualmente, afinal tudo o que se refere ao comportamento humano não dá para generalizar".
Para a terapeuta comportamental Ramy Arany, aprender a lidar com o luto da perda é a palavra-chave para superar o medo. "Perder é romper, mas, também, encerrar um ciclo para que outro seja iniciado", diz. "Desapegar e abrir-se para o novo é importante. Quem não faz isso vai adoecendo".
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